quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Voluntários começam reflorestação com 5.000 árvores em Arganil

Mais de 5.000 árvores serão plantadas na Serra do Açor, concelho de Arganil, na quinta-feira, numa ação solidária de reflorestação que envolve 500 voluntários de vários pontos do país.
Trata-se de uma iniciativa da empresa Galp, em parceria com a Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (ANEFA), que visa “contribuir diretamente para a recuperação das zonas afetadas pelos incêndios, mas também dar a possibilidade a toda a população portuguesa de se associar ao movimento ao longo dos próximos meses”.
Nos espaços queimados pelos incêndios deste ano, em Cepos, lugar com pouco mais de 130 habitantes que integra a União das Freguesias de Cepos e Teixeira, centenas de colaboradores, parceiros, fornecedores e clientes da ANEFA e da Galp realizarão os trabalhos de plantação das 5.000 árvores, de um total de meio milhão de unidades doadas por esta empresa de energia.
“A Serra do Açor verá esta semana os seus primeiros sete hectares a reflorescer na zona que foi devastada pelos incêndios no último verão”, referem os promotores em comunicado, indicando que a iniciativa avança no âmbito do movimento Terra de Esperança, que nasceu “para responder à necessidade urgente de reflorestar” os territórios devastados pelos fogos dos últimos meses.
Além de ter pago os 500 mil pés de espécies autóctones, designadamente carvalhos, castanheiros e outras, destinadas a vários municípios da região Centro, a Galp financiou “uma plataforma que permitirá à ANEFA dar uma nova dinâmica a ações de voluntariado que ajudem as zonas que arderam nos dois últimos anos a virarem a página”, adiantam.
O movimento Terra de Esperança “está aberto a todos os que queiram participar” nos trabalhos que decorrerão nos próximos meses, segundo a nota.
Na ação de quinta-feira, entre as 10:30 e as 16:00, colaboram a GNR e os Bombeiros Voluntários de Arganil, entre outras entidades.
Além daquele projeto multimunicipal, a Galp, através da fundação com o seu nome e com a participação dos seus distribuidores locais, está a desenvolver outra iniciativa com os municípios de Arganil, Carregal do Sal, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Nelas, Oliveira de Frades, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penacova, Pinhel, Santa Comba Dão, Seia, Tábua, Tondela, Sever do Vouga e Vouzela.
O objetivo é colocar uma árvore de Natal nas praças destas vilas e cidades, “homenageando de forma simbólica todas as vítimas deste verão e levando uma luz de esperança”, na época festiva, às comunidades mais atingidas pelos fogos deste ano.
In Sapo24

O drama dos incêndios em Portugal numa só imagem

O prestigiado site nacional de fotografia Olhares destaca esta semana uma fotografia que espelha bem a situação dramática que o País com os incêndios.

Duas crianças observam o denso fumo que se eleva no ar, resultado do incêndio que lavrava, a 13 de agosto em Cicouro, Miranda do Douro, enquanto um helicóptero sobrevoa o local. É esta a imagem que o site Olhares destaca como "Foto da Semana" e que está a merecer dezenas de comentários e partilhas nas redes sociais.

In Visão

Bruxelas apresenta 5.ª feira propostas para reforçar proteção civil europeia

A Comissão Europeia vai apresentar na quinta-feira propostas para reforçar o mecanismo europeu de proteção civil, uma vontade expressa do presidente do executivo comunitário, Jean-Claude Juncker, na sequência dos devastadores incêndios florestais deste ano em Portugal.
Há um mês, pouco depois daquele que foi considerado o pior dia de incêndios florestais do ano em Portugal (15 de outubro, quando centenas de fogos causaram perto de meia centena de vítimas mortais), Juncker defendeu que "não é normal" o tempo que o país teve de esperar por assistência para combater os fogos e anunciou que encarregou uma "task force" de comissários de refletir, no prazo de um mês, "na remodelação e numa nova articulação dos mecanismos europeus de proteção civil, que não estão a funcionar a cem por cento".
Em entrevista à Lusa no final de outubro, considerou fundamental melhorar a resposta coletiva europeia a catástrofes -- o que pode eventualmente incluir a criação de uma força europeia permanente de proteção civil - afirmando que "após os trágicos incêndios florestais em Portugal, as coisas não podem continuar como estavam".
"A resposta solidária da UE a situações de necessidade tem de ser melhor, mais robusta e mais célere. Encarreguei o meu comissário para a Proteção Civil, Christos Stylianides, de apresentar propostas concretas durante o próximo mês. Ele vai trabalhar de perto com a comissária Corina Cretu, que tem a seu cargo a Política de Coesão e o Fundo de Solidariedade da UE, para fazer uma análise do conjunto total das nossas ferramentas da UE e como podem ser melhoradas", disse então.
O porta-voz da Comissão, Margaritis Schinas, indicou hoje na conferência de imprensa diária do executivo comunitário que "o colégio, após o apelo que o presidente Juncker fez há um mês, vai adotar, por iniciativa do comissário Stylianides, propostas para reforçar mecanismo europeu de proteção civil".
O porta-voz precisou que as propostas serão discutidas na reunião semanal do colégio de comissários que se realizará na quarta-feira, mas aprovada de seguida por procedimento escrito, para serem apresentadas na quinta-feira pelo comissário da Ajuda Humanitária e Gestão de Crises.
As situações mais graves de incêndios em Portugal este ano ocorreram em junho, em Pedrógão Grande - quando um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos -, e a 15 de outubro passado, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, que provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, perto de uma dezena dos quais graves.
Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
In Lusa/Fim

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Incêndios: Proteção Civil registou no sábado cem fogos de pequena dimensão

A mesma fonte adiantou que, entre as 00h00 e as 19h00 de sábado, registaram-se cem ocorrências de fogo em povoamentos florestais, matos e agrícolas, mas nenhum dos incêndios atingiu “os critérios de notificação relevante”.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) registou este sábado cem incêndios florestais de pequena dimensão, disse à agência Lusa fonte da ANPC.
A mesma fonte adiantou que, entre as 00h00 e as 19h00 de sábado, registaram-se cem ocorrências de fogo em povoamentos florestais, matos e agrícolas, mas nenhum dos incêndios atingiu “os critérios de notificação relevante”.
Segundo a ANPC, nenhum dos cem incêndios durou mais de três horas ou envolveu mais de 15 meios, critérios para que um fogo seja considerado “ocorrência importante”.
A mesma fonte disse também que se realizaram no sábado queimadas no país que já estavam autorizadas pelas câmaras municipais e foram acompanhadas pelas forças de segurança e bombeiros locais.
Estas queimadas foram autorizadas antes de ter sido prorrogado, na sexta-feira, o período crítico de incêndios florestais, que prevê a proibição de lançar foguetes e fazer queimadas e fogueiras nos espaços florestais, interdição que se prolonga até 23 de novembro.
A fonte da Proteção Civil precisou ainda que os cem incêndios que sábado deflagraram não incluem as queimadas.
O Governo voltou a prorrogar o período crítico de incêndio devido à provável ausência de precipitação significativa.
Na sexta-feira, o Ministério da Administração Interna (MAI) alertou a população para que adeque, até segunda-feira, os seus comportamentos ao risco de incêndio previsto para os próximos três dias.
Segundo o MAI, estão “reunidas condições favoráveis à propagação de incêndios rurais”, tendo em conta o tempo seco e a subida de temperatura para valores acima da média para esta época do ano.

In Jornal Económico

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O vídeo que nunca pensei fazer - Adriana Simões

O vídeo que nunca pensei fazer


Este vídeo é muito especial para mim. É sobre um acontecimento que me marcou muito, que torna cada dia meu, agora, muito difícil e que, sem dúvida, tinha de ser eternizado aqui, no Youtube, na internet.

 Esta é uma homenagem ao meu PAI, e de certo modo ao meu TIO também... Apesar de não falar tanto dele no vídeo. Esta é parte da história do dia 15 de Outubro de 2017. Este é parte do texto que escrevi sobre este dia. É parte dos relatos que estão no meu caderninho de escrita.

É parte daquilo que eu senti sobre o que aconteceu. Não quis entrar em pormenores, não quis contar tudo o que aconteceu neste dia - em respeito a ELES, à minha família, a mim, e a esta história que tem tanto de trágica como de pessoal. Quis dar-vos a conhecer esta perda, quis homenagear o meu pai publicamente mas tentei fazê-lo de forma não explícita pois a história guardo-a para nós.

 E é bem longa. Foram horas imensas de sofrimento até sabermos da tragédia. Faz hoje um mês. Obrigada por tudo PAI. Obrigada por tudo TIO. Amo-vos! Até já ♡ 15 Outubro de 2017 ✝

Autor: Adriana Simões

Nove unidades móveis vão percorrer 708 aldeias e lugares afetados pelos incêndios

Nove unidades móveis vão percorrer 708 aldeias e lugares da região Centro afetados pelos incêndios para sinalização das necessidades das famílias e esclarecimento dos cidadãos, agricultores e empresários, anunciou hoje o Governo.
A primeira unidade móvel arrancou hoje em Arganil, distrito de Coimbra, indo de porta a porta na aldeia de Vale de Moinho para esclarecer a população e sinalizar situações de necessidade social ou médica.

Na sexta-feira, começam também a funcionar unidades no distrito de Viseu e da Guarda, e, na próxima semana, estarão todas as nove unidades a funcionar, disse a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, que falava aos jornalistas antes de acompanhar o início dos trabalhos da unidade móvel, em Arganil.

Além de Coimbra, Viseu e Guarda, a iniciativa abrange também concelhos dos distritos de Aveiro e Leiria.

As nove unidades, que vão contar com técnicos da Segurança Social, Notariado e Direção Regional de Agricultura, vão percorrer 18 concelhos em cinco dos 11 distritos afetados pelos fogos de 15 de outubro, acrescentou, sublinhando que poderá haver ajustes nos municípios abrangidos por esta medida "ao longo do tempo".

O Governo, explanou Cláudia Joaquim, optou por dividir o plano de intervenção em três níveis.
No primeiro nível, 18 concelhos terão unidades móveis que vão "porta a porta" pelas aldeias a sinalizar e esclarecer as populações.


Para além dos reforços de atendimento e deslocações porta a porta dos técnicos, vai estar disponível a partir de segunda-feira "uma linha telefónica específica" para cada distrito "para contacto direto e sinalização imediata".

Segundo Cláudia Joaquim, esta medida - implementada com uma lógica semelhante àquela que foi adotada após os incêndios de Pedrógão Grande - permite identificar as famílias que tenham sido mais afetadas, perceber os bens que perderam e as necessidades que têm, por forma a fazer-se um acompanhamento das pessoas e a estabelecer-se um plano de apoio.

As unidades, para além de esclarecerem as famílias sobre as prestações ou apoios sociais a que têm direito, vão também prestar informação sobre as ajudas disponíveis às empresas afetadas e agricultores, bem como tirar dúvidas sobre veículos ardidos ou emissão de certidões.

Na aldeia de Vale de Moinho, Maria América Carvalho, de 73 anos, ouviu a explicação da equipa da Segurança Social, depois de falar do que tinha perdido no incêndio.

"Muita força", pediu a vogal do Instituto de Segurança Social, Sofia Pereira. "É pouca", respondeu Maria América, cujo marido tinha ainda dificuldade em falar com os técnicos, no terraço da casa que ficou queimada.

António Martins, também habitante da aldeia, contou à agência Lusa que aproveitou para "tirar uns apontamentos" e esclarecer algumas dúvidas.

Tinham-lhe dito antes que não poderia ter apoio para o trator, mas os técnicos da unidade móvel esclareceram-lhe que afinal podia.

"Já é uma ajuda", notou, sublinhando, porém, que ainda é tudo "muito confuso".
A idade pesa e as pessoas sentem-se "desamparadas", disse à Lusa António Martins.
Alice Santos, que olha para a casa destruída onde "nem uma agulha ficou", dorme todos os dias na casa de uma prima, mas durante o dia vai para um pátio, onde almoça e faz a sua vida.

"Ainda ninguém nos disse nada, mas espero que nos deem alguma coisinha", frisa Alice, de 73 anos, frisando que tem valido a ajuda de desconhecidos, amigos, vizinhos e familiares.

In Sapo24

Um mês depois do fogo. "Perdemos tudo e ainda acham que não estamos a falar a verdade"

Há quem espere apoios e quem veja o Governo duvidar das contas que fizeram aos prejuízos. Um mês depois da tragédia de 15 de Outubro, retratos de Seia, Gouveia, Tondela e Oliveira do Hospital.
No concelho de Seia, no distrito da Guarda, 130 habitações, 76 delas de primeira habitação, foram atingidas pelo fogo de 15 de Outubro. Na freguesia de Vide, em Malhada das Cilhas, encontrámos Cacilda Brito, 83 anos. Teve o fogo à porta de casa, obrigou-a a sair para Loriga. Lembra-se de um casal, que voltou para trás para ir buscar roupa para dois filhos menores. Nunca chegaram a porto seguro: morreram na estrada apanhados pelo fogo.
Cacilda refere-se a António Bailão, 47 anos, e Raquel Bicho, 32 anos, que viviam na aldeia do Cide, em Vide. Naquele domingo foram surpreendidos pelo fogo, que avançou rápido demais. Saíram de casa e já estavam em segurança na Barriosa, juntamente com os dois filhos menores, um menino de dois anos e uma menina de nove. Mas voltaram para trás.
É na estrada que liga a Cide, pequena povoação com cerca de 50 pessoas, que encontramos Armando Bailão, 50 anos, irmão e cunhado do casal que perdeu a vida na estrada. Um mês depois, Armando e a esposa Maria da Conceição, 58 anos, depositam flores e colocam uma vela eléctrica nos locais da tragédia.
“Estamos a colocar uma cruz e umas flores para identificar… Aqui ficou o meu irmão, tentou fugir, mas não conseguiu, talvez tenha rebentado um pneu. E ali a minha cunhada, dentro da carrinha. Revolto-me com isto e não sei o que pode acontecer”, desabafa. “Os meus sobrinhos só chamam pela mãe e pelo pai. Perdemos tudo, parece que não temos nada em casa.”
“Valia mais terem ardido as casas e eles que escapassem. A casa torna-se a construir, mas a vida de uma pessoa não dá para voltar atrás”, conclui Maria da Conceição.
Gouveia. Viver num contentor
A meia centena de quilómetros, encontramos uma casa destruída em Vinhó, Gouveia, no distrito de Guarda. Um casal de pastores perdeu a moradia e o abrigo dos animais.
No concelho de Gouveia, 16 casas de primeira habitação foram completamente destruídas pelo fogo. Um mês depois, apesar de já terem sido realojados, o pastor Abel Pimenta recusa abandonar a quinta onde sempre viveu. Vive num contentor frente à casa.
“Durmo aqui e como aqui porque vivi aqui a minha vida e o que está aqui fui eu que fiz com um empréstimo que me custou muito a pagar. Com ou sem ajuda, pretendo reconstruir isto. Eles falam, mas ainda não vi nada de concreto”, critica Abel Pimenta, 54 anos.
A mulher e a filha vivem numa casa emprestada pelo presidente da Junta de Vinhó. “Mas não é nossa, queremos a nossa casa de volta”, afirma a esposa do pastor, Fernanda Pimenta, de 53 anos. “Se vir que nos desprezam, como noutros casos que já vimos, fecho a porteira e vou para a Suíça”, anuncia Abel.
Já comunicaram ao Ministério da Agricultura os prejuízos que tiveram, mas “há quem duvide. É ver para crer. Veja o chão estalado, já caiu o telhado, era isto que gostava que vissem de perto e quem cá vem não analisa de perto”, diz.
Ali à frente havia um pinhal, “onde tinha 400 pinheiros”. Também havia um barracão de trabalho, garante. Os serviços locais do Ministério da Agricultura duvidaram: dizem que ali só deveria haver uns 40 pinheiros e um telheiro em vez do barracão. “Perdemos tudo e ainda acham que não estamos a falar a verdade. Já estou um pouco com a idade avançada para levantar a cabeça, mas, se Deus me ajudar, quero ver se ainda consigo.”
Tondela. Empresas “de primeira” e “de segunda”
Os prejuízos causados pelo incêndio do 15 de Outubro no concelho de Tondela, no distrito de Viseu, rondarão os 30 milhões de euros, 150 casas de primeira habitação consumidas pelas chamas e 40 empresas destruídas.
Vítor Mota, 56 anos, não consegue esquecer aquele som “tão grave, ensurdecedor”, o som de quando “estremece tudo”. A recordação perturba-o. Perdeu quase tudo de uma grande empresa exportadora de madeira para Espanha. “Tenho 500 mil euros de prejuízo neste parque, mas em toda a empresa são aproximadamente 900 mil euros. São cerca de 30 camiões que estão reduzidos a meia-dúzia.”
As plataformas em Tondela e Mortágua e mais de 10 mil toneladas de madeira ficaram transformadas em cinza. Vítor Mota não entende os papéis que lhe mostram que está fora dos apoios anunciados. “Saiu o regulamento dos programas de apoio e chego à conclusão que a nossa empresa, por ser de exploração florestal, não está contemplada em nenhum destes programas. Pergunto porquê. Perante as mesmas dificuldades, há empresas que podem aceder aos apoios e outras não. Então, há empresas de primeira e outras de segunda”, contesta.
O empresário de Tondela continua sem ver luz ao fundo do túnel. “Tenho muitas dúvidas. Vejo a situação muito complicada e não vejo soluções adequadas aos nossos problemas. Estou muito desiludido: houve muita solidariedade verbal, resultados práticos zero”, critica.
Oliveira do Hospital. A solidariedade dos pastores
Em Oliveira do Hospital, distrito de Coimbra, os incêndios mataram 12 pessoas. Outros números: 180 casas de primeira habitação consumidas pelas chamas; 95 empresas afectadas; um prejuízo total a rondar os 90 milhões de euros; 480 postos de trabalho afectados; 97% de área florestal ardida; 5 mil animais mortos.
A Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela tem 400 pastores que beneficiam de apoio, graças à ajuda vinda de todo o país, destaca o presidente da ANCOSE, Manuel Marques.
“Devemos muito a Coruche, a Vila do Conde, a Grândola, a Soure, a Sabugal, a todas as partes do país e às fábricas de rações que nos fizeram preços reduzidos. Há pessoas a querer doar e que duvidam se chegam ao destinatário. Aqui fica tudo registado”, esclarece o responsável.
A produção de queijo da Serra da Estrela deverá cair para metade este ano. “Alguém que queira comprar ovelhas bordaleiras neste momento não consegue fazê-lo”, lamenta Manuel Marques.
João Lameiras, 49 anos, tem dois filhos, vive em Vila Franca da Beira, onde ardeu a casa e a queijaria. A realidade de uma vida é agora um sonho: João quer voltar a produzir queijo da Serra da Estrela.
“Ardeu tudo, o material da queijaria, a parte agrícola, agora estamos parados, não temos onde fabricar, vai ser difícil, mas o meu sonho era reconstruir a queijaria até ao final do ano”, sorri, com as lágrimas nos olhos.
Apesar de todas as dificuldades, João não culpa ninguém, só agradece. “Tanto a nível de câmara como da ANCOSE e do país, as pessoas têm sido espectaculares a ajudar, é espectacular o que têm feito, é uma forma de passar melhor o tempo e não pensar tanto no que aconteceu”, revela, enquanto carrega mais um saco de ração que dará para pouco tempo. Tem 130 ovelhas bordaleiras, não perdeu nenhuma nos fogos de Outubro. “Salvei os animais, mas não consegui salvar a casa. Ou salvava uma coisa ou outra.”
In Rádio Renascença

Incêndios de 15 de Outubro. Governo vai explicar apoios "porta-a-porta"

Informar sobre os apoios disponíveis e detectar situações de acompanhamento social ou médico são alguns dos objectivos da nova medida.
O Governo lança, esta quinta-feira, postos de atendimento móveis com vista a chegar mais próximo das populações afectadas pelos incêndios de Outubro.
Trata-se de uma acção porta-a-porta – como refere o comunicado enviado à comunicação social – que surge depois de várias críticas à complexidade e dificuldade de aceder aos apoios anunciados.
Muitas dessas críticas foram ouvidas durante a emissão especial de quarta-feira do programa Manhã da Renascença, feito a partir de Oliveira do Hospital.
O presidente da Câmara, por exemplo, queixou-se que os agricultores da chamada agricultura social, que nem têm actividade registada mas são muito importantes para o sector e para a região, não tinham acesso a apoios.
José Carlos Alexandrino falou num sentimento geral de indignação e pediu “apoios em igualdade de circunstâncias”.
Do lado das vítimas, o presidente da associação que as representa criticou a disparidade de respostas do Governo para o caso de Pedrógão Grande e para as populações afectadas pelos fogos de 15 de Outubro.
Disse Luís Lago que as pessoas não percebem porque é “que, sofrendo a maior tragédia e destruição material que o país conheceu nos últimos séculos, não exista uma resposta urgente”.
Já esta quinta-feira, também na Renascença, o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores criticou a “complicação que está montada no terreno”, referindo-se aos procedimentos para obter os apoios pós-incêndios.
A medida lançada hoje pelo Governo dirige-se às populações dos concelhos afectados pelos incêndios de Outubro, no Norte e Centro do país, e tem como principal objectivo perceber melhor as necessidades e dificuldades sentidas no terreno.
“Nas próximas semanas, nove equipas constituídas por técnicos da Segurança Social, dos serviços do Instituto dos Registos e Notariado e da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro e do Norte, apoiados pela Agência para a Modernização Administrativa, vão promover uma acção ‘porta-a-porta’, através de unidades móveis”, informa o comunicado do Ministério do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social.
Os serviços disponibilizados nestas unidades são os seguintes:
  • Informação sobre apoios sociais disponibilizados;
  • Informação de apoio a agricultores e reposição do potencial produtivo.
  • Informação sobre prestações sociais atribuídas pela Segurança Social;
  • Sinalização de situações com necessidades de acompanhamento social ou médico;
  • Informação sobre apoios disponíveis às empresas afectadas e apoios à empregabilidade;
  • Informação e emissão de certidões, requisição do documento de identificação ou 2ª via do certificado de matrícula no local;
  • Informação sobre a situação dos veículos ardidos.
Na quarta-feira à noite, e no que toca ao sector da agricultura, o ministro Capoulas Santos anunciou mais 23 milhões de euros de apoios, destinados à estabilização dos solos nas zonas afectadas pelos incêndios de 15 e 16 de Outubro.
No total, o apoio financeiro nesta área passa a 89 milhões de euros.
In Rádio Renascença

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Depois do fogo, as árvores queimadas. “Há outra tragédia à espera de acontecer”














Manuela Furtado sente-se a jogar a roleta russa com a sua vida quando percorre o IP3. “Está tudo ardido de ambos os lados e, em algumas zonas, as árvores são enormes e estão penduradas em penhascos”, pendendo sobre uma estrada já de si sinuosa e que todos os dias é utilizada por milhares de carros. 

Não é uma previsão. Já aconteceu desde que o fogo passou pela região, em outubro – as árvores queimadas tombaram para o alcatrão, foram cortadas “na zona que estorva” e o que resta dos troncos continua à espera de ser recolhido. A Infraestruturas de Portugal garante ao Observador que não tem informação de que haja perigo para as populações. “É outra tragédia à espera de acontecer”, garante Manuela Furtado ao Observador.

Há 12 anos que o dia começa e acaba da mesma maneira: Manuela Furtado, conservadora em Santa Comba Dão, sai de Coimbra rumo ao local de trabalho e, ao cair da noite, faz o mesmo trajeto de volta. Não é raro ser obrigada a perder mais tempo que o necessário nesse percurso devido aos trabalhos de remoção de uma árvore que caiu sobre o asfalto, antes mesmo de as chamas deixarem o terreno daquela região de Oliveira do Mondego ainda mais debilitado. “Tanto pior será quando vier chuva e os ventos fortes, aquilo vai cair, não é preciso ser-se técnico para perceber que aquilo vai cair”, antevê. 
       
Ao Observador, o comandante dos bombeiros de Penacova, por onde o IP3 passa a caminho de Viseu, confirma que a corporação já foi chamada a intervir para limpar alguns troços da região. “Há muitas árvores ao longo da estrada” e os bombeiros têm sido chamados “quando cai uma árvore, quando há uma árvore para cortar ou quando é preciso desimpedir a via”, diz António Simões.

Mas, sublinha aquele responsável, “o que está por cima” — as outras árvores equilibradas nos penhascos — , “continua ali” e representa um perigo para quem passa pelas zonas por onde o fogo andou há cerca de um mês. Ao ponto de pôr em risco quem por ali passa? “Pode acontecer [um acidente], é verdade”, admite o comandante.

Pedro Coimbra é presidente da Assembleia Municipal de Penacova. Desde os incêndios, tem percorrido semanalmente toda aquela região e, um mês depois de o fogo ter passado por ali, diz que “ainda há muita intervenção por fazer” e que “há, naturalmente, riscos associados a esse problema” das árvores debilitadas à beira das principais estradas. “As autarquias têm alertado entidades competentes e é essencial que haja uma intervenção”, sublinha ao Observador.

O risco não está circunscrito ao IP3. As informações recolhidas pelo Observador apontam para que, a menos de 20 quilómetros dali, na estrada nacional que liga o IC6 a Oliveira do Hospital (e por onde o fogo também deixou um cenário cinzento), também há árvores que ameaçam cair a qualquer momento sem que a intervenção se faça sentir.
“Não há informações de perigo”, diz Infraestruturas de Portugal
A gestão destas estradas cabe à Infraestruturas de Portugal (IP), sob tutela dos Ministérios do Planeamento e das Infraestruturas e das Finanças. Questionada sobre eventuais riscos para a população associados a árvores em risco de queda, Fernanda Silva, do gabinete de imprensa, diz não ter chegado ao organismo qualquer informação nesse sentido.

Num esclarecimento ao Observador prestado por telefone, Fernanda Silva refere que a IP “tem equipas no terreno que fiscalizam e monitorizam” as áreas sob sua jurisdição e que, “ao ter conhecimento de árvores caídas”, atuam e cortam-nas. “Temos um plano de intervenções previsto para essa zona” e que já está a ser concretizado, acrescenta esta responsável, sem conseguir esclarecer que tipo de trabalho preventivo está a ser feito ou se há, sequer, algum trabalho a ser desenvolvido nesse sentido.

O comandante dos bombeiros de Penacova considera que “devia haver um trabalho persistente” na contenção dos riscos que ficam depois da passagem do fogo. A este respeito, António Simões lembra o caso da Galiza, onde, num dia, arderam 50 mil hectares e agora se depara com um outro risco: o de deslize de grandes porções de terras. Na região, as autoridades espanholas estão a “espalhar palha” lançada a partir de helicópteros, uma tarefa com que se pretende conter eventuais deslizamentos expectáveis com a chegada as primeiras chuvas mais fortes.

Esse perigo também existe em Portugal. António Simões aponta para as encostas de Oliveira do Mondego, delimitada a sul pelo rio Alva e com o rio Mondego pelo meio, onde identifica um “risco grave do erosão”. Quando a chuva chegar, tudo o que ardeu em outubro vem pelas encostas abaixo.

A 15 de outubro, o “pior dia do ano” em matéria de incêndios florestais, de acordo com a Proteção Civil, as chamas que percorreram a zona centro e norte do país fizeram 45 mortes e deixaram 70 pessoas feridas. Cerca de 800 casas de habitação permanente foram total ou parcialmente destruídas e 190.090 hectares de floresta arderam (um valor que corresponde a quase metade da área ardida este ano).

In Observador

Associação da Serra da Estrela pede recuperação de áreas ardidas

A URZE – Associação Florestal da Encosta da Serra da Estrela defendeu hoje a recuperação das áreas destruídas pelos incêndios naquela região e também uma aposta na pastorícia como meio de prevenção dos fogos rurais.
José Mota, presidente da associação URZE, com sede em Gouveia, entende que “a aposta tem que passar fundamentalmente por estas duas componentes na Serra da Estrela: é a pastorícia, e, de facto, a floresta, mas uma floresta feita com pés e cabeças”.
Os incêndios deste ano, que nos dias 15 e 16 de outubro atingiram de forma particular os concelhos de Seia e de Gouveia, destruíram uma área de mais de 27 mil hectares do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), o que corresponde a 25% da área total, segundo o responsável.
No futuro, José Mota defende a recuperação de todas as áreas degradadas da Serra da Estrela, “que neste momento serão mais de 50 mil hectares”, com plantas autóctones.
“Não é difícil fazê-lo. Mais de 25% são baldios. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem aqui uma grande responsabilidade. E nós, enquanto entidade gestora de resíduos, podemos fazer a outra parte, ir ter com o proprietário. Deem-nos condições para, de facto, o fazermos”, afirmou o presidente da associação que encara a floresta como um elo de ligação entre a ecologia e a economia.
Analisando a área destruída pelos incêndios deste ano e os cerca de 3.500 hectares destruídos em 2015 e os cerca de 2.200 em 2016, o responsável aponta que o PNSE “é hoje uma manta de cinzas” e onde é preciso intervir “urgentemente”.
No entanto, o presidente da URZE lamenta que sendo uma área “tão importante em termos ambientais”, o Governo não tenha incluído o PNSE na experiência piloto que vai ser alargada a outras áreas protegidas do país, como a Serra da Malcata e o Parque de Montesinho.
José Mota lembra que em 2013 a URZE foi premiada pelas Nações Unidas pelo Programa de Recuperação de Áreas Degradadas da Serra da Estrela, um projeto que visava a recuperação de 30 mil hectares com plantas autóctones, nomeadamente carvalhos, castanheiros e bétulas, e a componente da pastorícia, que não foi concretizado por falta de financiamento.
Em sua opinião, um dos problemas atuais do PNSE foi criado “pelo facto de os pastores terem deixado de subir à serra, o que significa um amontoado, uma concentração de material combustível que devia ser destruído por interferência do pastoreio, nomeadamente das cabras e das ovelhas”.
As atividades de pastoreio são importantes para manter a limpeza nas redes primárias de gestão de combustíveis, que impedem a progressão dos incêndios, indicou.
A URZE tem a decorrer um projeto de pastorícia na rede primária de Alfátima, uma cumeada entre as encostas de Gouveia e de Manteigas, onde são mantidas 400 cabras que fazem o “trabalho de bombeiros”.
Se nos incêndios deste ano e de 2015 a rede primária “não tivesse sido mantida com o recurso à pastorícia, as consequências teriam sido, de facto, muito maiores”, concluiu.
In RádioBoaNova.com

Empresários e agricultores queixam-se de tardarem em chegar as ajudas do Estado

Um mês depois do trágico incêndio de 15 de outubro.

Exatamente um mês depois do trágico de incêndio que dizimou perto de uma centena de empresas e explorações agrícolas no concelho de Oliveira do Hospital, empresários e agricultores mostram-se descontentes e até “desanimados” com o atraso na chegada das ajudas do Estado.

Num programa especial emitido pela Rádio Boa Nova, a partir da sede da ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela, onde participaram diversos convidados, não faltaram criticas à falta de concretização no terreno dos apoios anunciados para a recuperação do tecido económico, e apesar do sentimento ser de “reerguer” as empresas e respectivas actividades económicas, empresários e produtores agrícolas temem por dias ainda mais cinzentos, do que aquele fatídico dia 15 de outubro em que o fogo tudo lhes levou.
Gerente, juntamente com o irmão mais velho de um dos maiores armazéns de distribuição de fruta do concelho, João Brito, não esconde a apreensão que sente nesta altura, trinta dias passados da maior tragédia material de sempre, e que deixou a empresa reduzida literalmente a cinzas. “Tínhamos armazenadas várias toneladas de fruta, tínhamos as nossas viaturas da empresa e pessoais, todo o material que engloba a empresa desapareceu tudo” recorda, ao mesmo tempo que lamenta não terem tido mais nada do Estado, até agora, senão “palavras”. “Até pode haver boa fé do Estado, mas até agora não há mais nada” faz notar João Brito, para quem são necessárias “soluções rápidas” para o problema das pessoas e das empresas lesadas, pois “se continuamos neste impasse provavelmente haverá desemprego”, alerta.
Conhecido produtor de queijo Serra da Estrela do concelho, Paulo Rogério, alinha pelo mesmo discurso, dizendo-se “farto de promessas” num setor já de si empobrecido. Com 180 mil euros de prejuízos contabilizados entre queijaria, abrigos para animais, alfaias agrícolas e cabeças de gado (ardeu-lhe metade do efetivo de ovelha bordaleira), o produtor questiona-se como recuperar a sua exploração no quadro dos apoios anunciados pelo Governo, em que acima dos 50 mil euros a comparticipação a fundo perdido é de apenas 50%. “Eu não consigo investir 90 mil euros”, afirma, desolado com a descriminação que o setor continua a ser alvo, mesmo numa situação de calamidade como aquela que se vive.
Sem casa, nem trabalho desde o trágico dia 15 de outubro, quando as chamas lhe levaram todo o equipamento da queijaria que se encontrava em obras e a própria casa de habitação, ali paredes meias, Paula Lameiras, outra conhecida produtora do famoso queijo Serra da Estrela, não esconde o desânimo que sente passado um mês do grande incêndio, sem que as ajudas prometidas cheguem ao terreno. “Têm sido dias muito duros, passado um mês, não tenho nada, não tenho casa, vivo numa casa alugada pela Câmara Municipal, e não tenho trabalho”, diz, de voz quase embargada.
Um futuro adiado também para o setor do turismo. Proprietário do único resort cinco estrelas da região, Francisco Cruz, não viu arder a sua unidade hoteleira nas Caldas de S. Paulo, mas viu certamente esfumar-se, no último mês, muitos dos turistas que a procuravam para uns dias de lazer nesta região do interior do país. “Quando eu ouço falar que a agricultura é o parente pobre em termos de incentivos, até pode ser, mas quando falamos de turismo então estamos a falar do parente pé descalço”, garante o empresário que vê com preocupação a diminuição da procura dos destinos de “Interior” desde a tragédia dos incêndios. “Já tinhamos sentido isso depois de Pedrogão e agora voltamos a sentir, as pessoas têm medo de vir para o Interior”, afirma o promotor turistico, para quem as medidas avançadas pela tutela não chegam para recuperar os prejuizos neste setor.
Um mês depois do “pior dia de sempre” para o concelho de Oliveira do Hospital, o presidente da Câmara, José Carlos Alexandrino, fala na necessidade dos apoios do Estado chegarem rapidamente ao tecido empresarial e mostra-se inconformado com as ajudas, embora já reforçadas, a um setor “estratégico” como é a agricultura, que ainda no dia do fogo, se provou, que “nos defendeu de milhares de mortos”, aludiu. “É preciso olhar para isto porque eu vejo muitas pessoas a quererem abandonar e isso é que eu não gostaria que acontecesse no meu concelho”, confessa o autarca, defendendo um aumento dos apoios ao setor agrícola e industrial do concelho, ao nível do que foi aprovado para Pedrogão.
Também o presidente da Associação de Vitimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, Luís Lagos, voltou a frisar a urgência da chegada dos apoios ao tecido económico e fala mesmo na possibilidade de avançar com uma ação contra o Estado, caso as ajudas às empresas lesadas nos incêndios de 15 de outubro não sejam iguais a Pedrogão.
In Folha do Centro

E "tudo o fogo levou"

Grande Reportagem da CentroTV
In CentroTV

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Mais de 442 mil hectares ardidos no pior ano de sempre em Portugal

Número do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, agora divulgado, fica aquém da estimativa do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, que apontava 563 mil hectares ardidos

Os incêndios florestais consumiram este ano mais de 442 mil hectares, o pior ano de sempre em Portugal, segundo os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O último relatório do ICNF, que analisa os dados entre 01 de janeiro e 31 de outubro, indica que arderam em Portugal 442.418 hectares de espaços florestais, metade dos quais no mês de outubro (223.901 hectares).

Os números do ICNF ficam, contudo, aquém dos mais 563 mil hectares indicados nas estimativas do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).

Quanto aos grandes incêndios -- sempre que a área total afetada é igual ou superior a 100 hectares -, até 31 de outubro foram registados 214 fogos desta categoria, que foram responsáveis por 412.781 hectares de espaços florestais, cerca de 93% do total da área ardida.

O relatório do ICNF indica um total de 16.981 ocorrências (3.653 incêndios florestais e 13.328 fogachos), com 264.951 hectares de povoamentos e 177.467 hectares de mato ardidos.

Até 31 de outubro de 2017 há registo de 1.446 reacendimentos, menos 8% do que a média anual dos últimos 10 anos.

De acordo com o ICNF, o distrito de Coimbra foi o mais afetado, com um quarto (113.839 hectares) do total da área ardida a nível nacional.

Depois de Coimbra surge o distrito da Guarda, com 60.038 hectares ardidos (14% do total) e o de Castelo Branco, com 52.721 hectares (12% do total).

Quanto ao número de ocorrências, e por ordem decrescente, os distritos de Porto (4.336), Braga (1.743) e Viseu (1.698) foram os que mais registam.

"Em qualquer um dos casos, as ocorrências são maioritariamente fogachos, ou seja, ocorrências de reduzida dimensão que não ultrapassam 1 hectare de área ardida. No caso específico do distrito do Porto a percentagem de fogachos é de 87%", refere o relatório.

Quanto aos maiores incêndios em termos de área ardida, no topo da lista aparece o que teve origem no dia 15 de outubro em Seia/Sandomil, no distrito da Guarda, que destruiu 43.191 hectares, seguido do registado no mesmo dia em Lousã/Vilarinho (Coimbra), que queimou 35.806 hectares.

No que se refere à Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), estima-se que tenham ardido 39.388 hectares de espaços florestais (5,5%). Destaca-se o Parque Natural da Serra da Estrela pela maior extensão de área ardida até à data (19.337 hectares, cerca de 21,7% da área total do parque).

A área protegida mais afetada face à sua extensão foi o Monumento Natural das Portas de Ródão, com quase 72% da área total destruída.

Já quanto aos terrenos submetidos ao regime florestal, estima-se que tenham ardido 73.190 hectares (cerca de 18,4%). Segundo o relatório, foi totalmente consumida a Reserva Botânica do Cambarinho, na vertente norte da Serra do Caramulo.

O ICNF destaca ainda a Mata Nacional de Leiria pela maior superfície ardida, com quase 9.476 hectares destruídos (86% do total).

Da análise do índice de severidade diário (DSR) acumulado até 31 de outubro, o ano de 2017 é o ano mais severo dos últimos 15, com valores semelhantes ao ano de 2005, que até aqui tinha sido o mais severo.

Face às condições meteorológicas adversas, favoráveis à propagação de incêndios florestais, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) decretou até à data 116 dias de alerta especial de nível amarelo ou superior do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF), onde se destacam 28 dias do mês de outubro (com exceção apenas para o período de 19 a 21).

O dispositivo de combate a incêndios foi prolongado até ao dia 15 de novembro, na sequência das previsões meteorológicas adversas e da manutenção do risco elevado de incêndios florestais.

Foi igualmente prolongado até 15 de novembro o período de funcionamento dos 72 postos de vigia da GNR, mantendo esta força de segurança as Equipas de Manutenção e Exploração de Informação Florestal (EMEIF) junto de cada Comando Distrital de Operações de Socorro.

Os incêndios em Portugal provocaram este ano mais de 100 mortos e mais de 300 feridos.

In Diário de Noticias

Incêndios: Marcelo promulga diploma, mas convida a reapreciação do apoio aos feridos

O Presidente da República promulgou hoje o diploma do parlamento que estabelece medidas de apoio às vítimas dos incêndios de junho, mas com ressalvas, convidando à "reapreciação da matéria, em especial na parte respeitante aos feridos graves".

Numa nota divulgada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa realça que este decreto 169/XIII da Assembleia da República teve origem em projetos apresentados em julho e foi aprovado em votação final global ainda "antes da tragédia de 15 e 16 de outubro e também antes das medidas tomadas pelo Governo" que abarcam as vítimas desses fogos e dos de junho.

"Ou seja, o diploma não toma obviamente em consideração nem a nova tragédia, nem as medidas agora tomadas pelo Governo", salienta o chefe de Estado.

No seu entender, este diploma do parlamento, aprovado em 13 de outubro com votos a favor de PS, BE, PCP, PEV, PAN e abstenção de PSD e CDS-PP, entra em conflito com a resolução n.º 157-C/2017 do Conselho de Ministros de 21 de outubro, que já está em vigor: "Têm conteúdos diferentes em pontos essenciais da parte estritamente reparatória".

Contudo, o Presidente da República argumenta que "a hipótese da devolução do decreto à Assembleia da República, convidando-a a reformular o seu diploma, implicaria o recomeço do procedimento legislativo, podendo atrasar outros pedidos indemnizatórios e correndo o risco de não culminar no objetivo pretendido".


O diploma em causa estabelece medidas de apoio às vítimas dos incêndios ocorridos entre 17 e 24 de junho, bem como medidas urgentes de reforço da prevenção e combate a incêndios florestais, e teve origem em projetos de lei do PCP, PSD e CDS-PP que deram entrada no parlamento na primeira quinzena de julho. O texto final, aprovado em 13 de outubro, incluiu propostas de alteração do PS.

Na nota hoje divulgada, o Presidente da República refere que a resolução que o Governo aprovou no dia 21 de outubro "cobre os danos respeitantes a vítimas mortais dos incêndios de junho e de outubro, em relação às quais o Estado assume desde logo a sua responsabilidade" e impôs a formação de "um conselho, já nomeado em 30 de outubro e que deverá apresentar relatório para 30 de novembro".

"Ao passo que o decreto da Assembleia da República abarca as vítimas dos incêndios de junho, cobrindo os danos morais e materiais, relativamente aos quais se venha a apurar haver responsabilidade do Estado, e aponta para uma comissão arbitral, diversa do conselho previsto na resolução", expõe.

Segundo o chefe de Estado "a compatibilização entre os dois diplomas, de modo a que o presente decreto não possa ser entendido como implicando a cessação de vigência ou alteração da resolução do Conselho de Ministros, legalmente anterior, impõe que o regime aplicável às vítimas de junho seja o do decreto, e que o da resolução, entrado em vigor antes, seja entendido como excecional, adequado e necessário (em linha com o número 3 do n.º 1 do decreto da Assembleia da República), valendo para a situação de vítimas mortais de junho e de outubro".

O número três do n.º 1 do decreto da Assembleia da República determina que "as medidas previstas na presente lei não prejudicam as já tomadas" numa anterior resolução do Conselho de Ministros de julho, "nem a adoção de quaisquer outras que se revelem adequadas e necessárias ao apoio às vítimas dos incêndios e à prevenção e combate aos incêndios, nem excluem a responsabilidade decorrente de contratos de seguro".

In Sapo24

“Mudanças na floresta? Só quando o Terreiro do Paço arder"

Alunos e professores de Engenharia Florestal tecem críticas ao poder político por não dar importância à floresta.

Num momento em que a floresta portuguesa passa por uma das maiores crises de sempre, a Renascença foi à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) conversar com alunos e professores de Engenharia Florestal para tentar perceber até que ponto o poder político aproveita ou não a investigação que ali é produzida e o por quê de tão poucos jovens enveredarem por engenharia florestal.

Na área da Engenharia Florestal há três cursos em Portugal, mas muitas vagas ficam às moscas. A UTAD, por exemplo, além da licenciatura, ministra um mestrado em Engenharia Florestal, onde este ano entraram apenas nove alunos.

Rui Quaresma tem 20 anos, é natural de Arouca e está no terceiro ano. Entrou no curso por convicção. A floresta sempre o cativou e, por isso, engenharia florestal foi a sua primeira opção. “Sempre me vi envolvido ao ar livre, no meio das florestas. Não me via a fazer nenhum trabalho de gabinete nem fechado numa sala. Então, optei por uma área mais prática, a engenharia florestal”, conta.

Já Ana Barros, 24 anos, natural de Vila Real, refere que caiu ali “um bocadinho de paraquedas”, no entanto, aprendeu “a gostar” e, com tudo o que tem acontecido no país, acha cada vez “mais interessante a área” e defende que “deviam dar um bocadinho mais a palavra aos engenheiros florestais”.

Afinal, por que razão fogem os jovens da Engenharia Florestal? No entender de Rui Quaresma “as pessoas não sabem exactamente em que consiste o curso. Sabem o que é engenharia florestal, mas acham que é uma coisa muito limitada. Pensam que é só umas árvores, mas é muito mais, o curso é muito mais amplo”.

“Todo o ecossistema está ligado à engenharia florestal, desde o solo, a água, também, claro, as árvores são uma área crucial, mas também todos os outros componentes, desde de fauna à flora”, esclarece o estudante.

E qual é a empregabilidade do curso de engenharia florestal? Onde se trabalha? A professora Emília Galvão Silva garante que “os alunos saem do curso de engenharia florestal e, em média de três, quatro meses, conseguem emprego”.

“Nós, aqui na universidade, temos frequentemente pedidos de nomes de alunos para empregos, porque começa a haver falta de engenheiros florestais no mundo do trabalho”, acrescenta. As solicitações surgem sobretudo de gabinetes técnico-florestais, estruturas de prevenção de incêndios, associações de produtores florestais, autarquias e microempresas da indústria da madeira.
A lei diz: “pessoas, bens e, depois, a floresta. Então, a floresta não é um bem?”

A professora Emília Galvão Silva, recentemente eleita presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais, sustenta a ideia de que “o paradigma da floresta tem obrigatoriamente que mudar, assim como a ideia de que esta é apenas um bem produtor de madeira”.

Emília Galvão Silva também aqui atribui responsabilidades ao poder político, exemplificando: “a lei e a nova reforma florestal diz que é necessário, a nível dos incêndios, proteger primeiro as pessoas, depois os bens e, depois, a floresta, ou seja, a floresta não é um bem. E é a própria lei que tem isto escrito: pessoas, bens e, depois, a floresta. Então a floresta não é um bem? A floresta é o bem maior que Portugal tem”.

E o professor Domingos Lopes dá mais uma achega. "A principal solução, a principal resposta que devia, neste momento, estar a ser discutida é: como é que eu consigo levar mais engenheiros florestais para o terreno, para dar apoio aos proprietários florestais ou quem está a gerir a floresta, quer seja o Estado, quer seja o pequeno proprietário florestal?”.

“Não temos tido a capacidade exigir aos políticos”

Emília Calvão Silva, que é também a presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais, vê na “inércia” do poder político a justificação para o estado da floresta e para a pouca importância que se dá à engenharia florestal. E explica: “os políticos gerem-se por períodos de quatro anos. Esses períodos de quatro anos são muito pequeninos, tendo em conta que os dois primeiros serão para fazer alguma coisa e, depois, nos dois últimos já estamos quase em modo de campanha”.

“Não dá muito tempo para, de facto, tentarem saber o que é que nós fazemos, tentarem vir aqui beber algum conhecimento para, depois, se poder implementar”, conclui.

Pelo mesmo diapasão afina o director do departamento de ciências florestais da universidade Trás-os-Montes e Alto Douro, Domingos Lopes, atribuindo a culpa “aos políticos, e ao público em geral”, porque, diz, “também não temos tido a capacidade exigir aos políticos”.

O professor e investigador frisa que “o foco tem estado sempre a ser dado sobre combate, sobre o dispositivo de combate, quando é sobre silvicultura preventiva que está a solução”. E deixa um desafio ao Governo: “Se na resposta aos fogos de 2017, essa resposta não for, mais uma vez, dada no foco da prevenção de silvicultura preventiva, os problemas vão continuar, independentemente do discurso dos políticos e da forma como nos queiram fazer descrever as decisões que vão tomar”.
Urge rever o financiamento à investigação

É urgente, diz a nova presidente da sociedade portuguesa de ciências florestais, rever, por exemplo, o financiamento à investigação na área florestal.

“Era muito, muito urgente que o financiamento dos projectos de investigação florestais tivesse um período temporal maior ou, pelo menos, que nos permitissem que estes projectos fossem renovados e fossem acrescentados. Porque, acontece que nós fazemos investigação, nós fazemos até implementação de trabalhos de campo e, depois, ao fim de três anos, temos que os abandonar, porque simplesmente deixou de haver verba para continuar essa investigação”.

E a investigação que se faz na universidade transmontana é de qualidade, porque assenta no ordenamento florestal, garante o professor Domingos Lopes. “É uma investigação florestal que não resulta em peças. É uma investigação florestal que tem a visão do conjunto e, por isso, nós trabalhamos desde o solo, desde a ecologia florestal, mas, desde logo, uma área de conhecimento que para nós é estruturante, o ordenamento florestal”, conclui.

“Enquanto o Terreiro do Paço não arder, nada vai mudar”

Rui e Ana são dois futuros engenheiros florestais e estão com muita vontade em contribuir para uma nova floresta. Rui quer contribuir para “tornar a floresta mais resiliente aos incêndios” e manifesta tristeza “por ver o país no estado em que está”.

“Eu próprio, na minha zona local, vejo o país nesse estado e entristece-me profundamente viver no meio do queimado. É uma coisa inexplicável”, lamenta.

Ana entende o momento presente como de viragem e pede uma maior consciencialização sobre o “estado do país e sobre o que vai acontecer daqui para a frente”, reclamando do Governo “que dê mais ouvidos e mais valor a quem conhece científica e tecnicamente a área”.

“E como eu já disse muitas vezes – e espero bem que isto não seja verdade – mas, enquanto o Terreiro do Paço não arder, nada vai mudar. Mas eu espero que isto seja um momento de viragem para nós todos”, conclui a jovem estudante.


Os incêndios florestais consumiram este ano mais de 442 mil hectares, o pior ano de sempre em Portugal, segundo os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O último relatório do ICNF, que analisa os dados entre 1 de Janeiro e 31 de Outubro, indica que arderam em Portugal 442.418 hectares de espaços florestais, metade dos quais no mês de Outubro (223.901 hectares).

Os números do ICNF ficam, contudo, aquém dos mais 563 mil hectares indicados nas estimativas do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).

In Rádio Renascença