quarta-feira, 25 de julho de 2018

Grécia: a história do hotel que ajudou centenas de pessoas a fugir de barco

Cerca de 170 clientes do hotel Ramada Atica Riviera, mais uma centena de habitantes locais, procuraram refúgio no estabelecimento e foram resgatados com o auxílio de embarcações que vieram de vila de Rafina, a sede do concelho, para ajudar nas operações de socorro.


“Eu estava no porto de Rafina a recebê-los. O incêndio foi muito rápido”, contou Giorgos, responsável pela manutenção do hotel, que já está adiantado na limpeza do espaço exterior que já está pronto a abrir.
“Só precisamos de saber se vamos ter eletricidade, porque agora estamos a usar um gerador, e água para o serviço normal”, acrescentou.
O hotel é um dos poucos edifícios sem marcas do incêndio que lavrou na segunda-feira nesta região costeira nos arredores de Atenas que provocou, pelo menos, 74 mortos e 187 feridos, vários dos quais em estado muito grave, segundo fontes oficiais.
Mais de 1.500 casas foram afetadas e mais de 300 viaturas completamente destruídas pelas chamas, sobretudo em Mati, um dos bairros periféricos a norte de Rafina, onde muitos habitantes da capital têm segunda casa e onde passam férias de verão.
Os feridos em pior estado foram assistidos nos hospitais mais próximos e os desalojados colocados em hotéis ou em casa de familiares ou amigos, disse à Lusa na terça-feira à noite presidente da autoridade municipal de Rafina-Pikermi, Valeis Bournous.
O bairro de Rafina estava esta manhã quase deserto, sendo visível o cenário de destruição de casas, carros e árvores queimadas, postes de eletricidade derrubados pelo fogo.
Um agente da polícia grega que não se identificou estacionou o carro para impedir a circulação de automóveis pela rua Leof Posidonus e afirmou à Lusa que vão ser iniciados os trabalhos de limpeza dos destroços e detritos das ruas.
Para a região foram mobilizados elementos da polícia, bombeiros e exército para ajudar nos esforços das autoridades gregas, que continuam à procura de eventuais vítimas do incêndio, em terra ou no mar.
O Governo de Alexis Tsipras decretou três dias de luto e pediu ajuda internacional na noite de segunda-feira, tendo já alguns países respondido com meios de apoio.
O executivo grego já desbloqueou uma verba de 20 milhões de euros, procedente do Programa de Investimento Público, destinada à ajuda imediata e a cobrir as necessidades das zonas mais afetadas.
O ministro da Administração Interna português, Eduardo Cabrita, anunciou na terça-feira que Portugal disponibilizou 50 elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB) para ajudar a combater os incêndios na Grécia, no âmbito do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.

In Jornal Económico

Número de mortos na Grécia sobe para 79

O número de mortos dos incêndios na Grécia aumentou para 79, informou hoje o porta-voz do corpo de bombeiros grego.


o entanto, por enquanto, o número de pessoas desaparecidas permanece desconhecido, já que dezenas de chamadas foram recebidas pelas autoridades de muitos familiares e amigos que estão à procura dos seus parentes.

O prefeito da cidade portuária de Rafina, localizada a cerca de 30 quilómetros de Atenas, Evánguelos Burnús, estimou hoje, em declarações à rede privada de televisão Skai, que o número de vítimas poderia ultrapassar uma centena.

Os fogos que lavram na Grécia causaram também mais de 180 feridos, alguns em estado crítico.
Mais de 1.500 casas foram afetadas e mais de 300 viaturas foram completamente destruídas pelas chamas, sobretudo em Mati, um dos bairros periféricos a norte de Rafina, onde muitos habitantes da capital têm segunda casa e onde passam férias de verão.

O Governo de Alexis Tsipras pediu ajuda internacional na noite de segunda-feira, tendo já alguns países respondido com meios de apoio, como foi o caso de Portugal, que anunciou o envio de 50 elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB).

In Visão

Fumo que mata: "Ao fim de três inspirações, as pessoas ficam em dificuldade"

O fumo intenso causado pelos incêndios que arrasaram grande parte de Mati, terá sido a principal causa das mortes, incluindo de um grupo de 26 pessoas que foi encontrado perto do mar.


"Penso que o principal problema foi o fumo. Ao fim de três inspirações, as pessoas ficam em dificuldade", disse o major Inanis Artopius, do 9.º regimento de bombeiros de Atenas, à agência Lusa.

O grupo estaria reunido anum evento de celebração num restaurante próximo, porém, quando tentou sair da povoação pelas 19:00 horas, as estradas ficaram bloqueadas com carros, e decidiram fugir a pé.

O proprietário de uma casa junto ao mar abriu os grandes portões para o jardim e tentou encaminhá-los por um carreiro para uma pequena baía a cerca de 20 metros de distância, mas só alguns terão escapado, enquanto 26 ficaram para trás, desorientados pelo fumo denso.

"Vi as pessoas em grupos, abraçadas, corpos de crianças", adiantou o responsável,
Para trás ficou um cenário de destruição, incluido de vários cadáveres de animais domésticos.
Artopius está hoje a visitar diferentes casas para tentar encontrar eventuais desaparecidos.
"Quando à porta estão carros queimados, é sinal de que poderão estar pessoas [mortas] lá dentro", disse à Lusa.

Muito perto, Vassilis abre a porta de um automóvel parcialmente queimado para recuperar os pertences de um amigo que estava a passar férias em Mati quando foi surpreendido pelo incêndio de segunda-feira.

"Ele saltou para o mar com dois filhos, de nove e 10 anos, a mãe saltou com o filho de 14. Só os pais é que ficaram intoxicados", revelou.

Algumas pessoas que procuraram mergulhar dos rochedos com cerca de 10 metros de altura não conseguiram chegar à água, outros tiveram de esperar horas por barcos que vieram em socorro.
Localizado perto de Rafina, uma vila com cerca de 13.000 habitantes, Mati é um bairro com perto de 2.300 casas envolvidas por pinheiros, a maioria segunda habitação de habitantes da capital Atenas usada para a época balnear.

Muitas habitações e árvores foram completamente destruídas pelo incêndio, carros foram esventrados pelas chamas cujas jantes de liga leve cujo calor intenso derreteram para o chão e postes de eletricidade calcinados e derrubados no chão.

Contudo, no bairro também existem habitações que não sofreram danos significativos, como a vivenda de dois andares junto ao mar de Valaselli Aspa, cujo interior foi protegido pela porta de metal que instalou há cinco meses atrás.

"O meu vizinho veio avisar-me pelas 18:30 horas e saí em pânico. Hoje tenho noção da tragédia que aconteceu: o meu carro ardeu e tenho amigos estão desaparecidos", contou à Lusa.
Residente em Mati a tempo inteiro, disse que esta época é quando a povoação ficava cheia de pessoas que vinham passar o verão.

"Este sítio era um paraíso, mas a partir de agora nunca mais ser o mesmo", lamentou.
As autoridades iniciaram as operações de limpeza com máquinas que recolhem entulho do chão, ao mesmo tempo que continuam os esforços para encontrar cerca de 100 pessoas dadas como desaparecidas.

Entretanto, o número de mortos dos incêndios na Grécia aumentou para 79, informou hoje o porta-voz do corpo de bombeiros grego, Stavrula Marli.

Os fogos causaram também mais de 180 feridos, alguns em estado crítico.

O Governo de Alexis Tsipras pediu ajuda internacional na noite de segunda-feira, tendo já alguns países respondido com meios de apoio, como foi o caso de Portugal, que anunciou o envio de 50 elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB).

O executivo grego já desbloqueou uma verba de 20 milhões de euros, procedente do Programa de Investimento Público, destinada à ajuda imediata e a cobrir as necessidades das zonas mais afetadas.

In Lusa

Grécia. “Um homem contou-me ter visto uma rapariga subir a um penhasco para escapar às chamas. Caiu e morreu à frente dele”

Maria Papavlachou, jornalista do canal televisivo grego “Alpha TV” já só viu as pessoas chegarem de barco ao porto de Rafina, na Grécia, “a chorar, com frio e muito assustadas”, resgatadas de zonas a arder pela guarda costeira, pescadores e outros voluntários. Mas, ao falar com algumas delas, percebeu o que haviam passado até chegar ali. Houve mães que “se viram aflitas para segurar os filhos nos braços enquanto tentavam ao mesmo tempo manter-se à tona” e pessoas que “ficaram dentro de água durante quatro horas, à espera de ser resgatadas”. Mas há mais. Leia o testemunho de Maria Papavlachou sobre aquilo a que assistiu numa tragédia que provocou pelo menos 74 vítimas mortais:

Vi vários barcos a chegar ao porto de Rafina na terça-feira de madrugada. Traziam pessoas que estavam em risco e que a guarda costeira, pescadores e outros voluntários haviam resgatado em praias perto de Rafina, como Kokino, Limanaki e Mati. O primeiro barco que vi chegar trazia um homem com queimaduras por todo o corpo. As equipas de socorro tentaram tirá-lo dali o mais rápido possível porque ele estava em grande sofrimento. O segundo barco transportava sobretudo crianças e idosos, mas também um homem que se afogara. Foi a primeira pessoa morta a chegar ao porto.

Vi outros barcos chegar depois disso, com pessoas muito assustadas, com frio e a chorar, sobretudo os mais novos. Muitas delas traziam no corpo apenas a roupa de dormir porque o fogo chegou muito rápido às suas casas e não tiveram tempo para se vestir nem para pegar nas suas coisas, dinheiro, nada. Em dez minutos, viram-se rodeadas de chamas. Limitaram-se a fugir e a correr na direção do mar para se salvar. Houve quem, no entanto, mesmo estando já na praia, decidisse pegar no carro para tentar fugir, mas foi má ideia.
A estrada encheu-se de carros, uma fila enorme que não permitia a ninguém avançar. Essas pessoas acabaram por deixar os seus carros e correr para a praia. Algumas pessoas disseram-me ter visto corpos no chão, entre eles o corpo de um bebé, enquanto corriam na direção do mar. Um homem disse-me ter visto crianças no cimo de um penhasco a tentar chegar ao mar. E outro homem contou-me ter visto uma rapariga também a subir a um penhasco. Quando chegou ao cimo, caiu e morreu à frente dele.

Na água, muitas mães viram-se aflitas para segurar os filhos nos braços e evitar que se afogassem, enquanto tentavam elas próprias manter-se à tona. Imagino o sofrimento que terá sido para elas ficar ali, sem saber o que fazer. Houve pessoas que ficaram dentro de água durante quatro horas, à espera de serem resgatadas. Vi o alívio no rosto de muitas delas ao chegarem ao porto. Sentiam-se finalmente seguras, embora continuassem a chorar. Abraçavam-se entre si e choravam. Muitas delas tinham vindo em barcos diferentes e era em Rafina que voltavam a encontrar-se.

Também vi pais a percorrer o porto de uma ponta à outra, várias vezes, verificando em cada barco se o seu filho estava ali. Mati é uma zona balnear, tem muitas casas de férias, e alguns destes pais haviam deixado os filhos ali com os avós. Quando o fogo começou, não conseguiram obviamente deslocar-se até lá para ir buscá-los, sendo obrigados a esperá-los no porto de Rafina. De cada vez que chegava um barco, lá iam eles a correr à procura dos filhos. Foi assim até às quatro da manhã, hora a que pararam de chegar barcos ao porto.

In Expresso