quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Empresários e agricultores queixam-se de tardarem em chegar as ajudas do Estado

Um mês depois do trágico incêndio de 15 de outubro.

Exatamente um mês depois do trágico de incêndio que dizimou perto de uma centena de empresas e explorações agrícolas no concelho de Oliveira do Hospital, empresários e agricultores mostram-se descontentes e até “desanimados” com o atraso na chegada das ajudas do Estado.

Num programa especial emitido pela Rádio Boa Nova, a partir da sede da ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela, onde participaram diversos convidados, não faltaram criticas à falta de concretização no terreno dos apoios anunciados para a recuperação do tecido económico, e apesar do sentimento ser de “reerguer” as empresas e respectivas actividades económicas, empresários e produtores agrícolas temem por dias ainda mais cinzentos, do que aquele fatídico dia 15 de outubro em que o fogo tudo lhes levou.
Gerente, juntamente com o irmão mais velho de um dos maiores armazéns de distribuição de fruta do concelho, João Brito, não esconde a apreensão que sente nesta altura, trinta dias passados da maior tragédia material de sempre, e que deixou a empresa reduzida literalmente a cinzas. “Tínhamos armazenadas várias toneladas de fruta, tínhamos as nossas viaturas da empresa e pessoais, todo o material que engloba a empresa desapareceu tudo” recorda, ao mesmo tempo que lamenta não terem tido mais nada do Estado, até agora, senão “palavras”. “Até pode haver boa fé do Estado, mas até agora não há mais nada” faz notar João Brito, para quem são necessárias “soluções rápidas” para o problema das pessoas e das empresas lesadas, pois “se continuamos neste impasse provavelmente haverá desemprego”, alerta.
Conhecido produtor de queijo Serra da Estrela do concelho, Paulo Rogério, alinha pelo mesmo discurso, dizendo-se “farto de promessas” num setor já de si empobrecido. Com 180 mil euros de prejuízos contabilizados entre queijaria, abrigos para animais, alfaias agrícolas e cabeças de gado (ardeu-lhe metade do efetivo de ovelha bordaleira), o produtor questiona-se como recuperar a sua exploração no quadro dos apoios anunciados pelo Governo, em que acima dos 50 mil euros a comparticipação a fundo perdido é de apenas 50%. “Eu não consigo investir 90 mil euros”, afirma, desolado com a descriminação que o setor continua a ser alvo, mesmo numa situação de calamidade como aquela que se vive.
Sem casa, nem trabalho desde o trágico dia 15 de outubro, quando as chamas lhe levaram todo o equipamento da queijaria que se encontrava em obras e a própria casa de habitação, ali paredes meias, Paula Lameiras, outra conhecida produtora do famoso queijo Serra da Estrela, não esconde o desânimo que sente passado um mês do grande incêndio, sem que as ajudas prometidas cheguem ao terreno. “Têm sido dias muito duros, passado um mês, não tenho nada, não tenho casa, vivo numa casa alugada pela Câmara Municipal, e não tenho trabalho”, diz, de voz quase embargada.
Um futuro adiado também para o setor do turismo. Proprietário do único resort cinco estrelas da região, Francisco Cruz, não viu arder a sua unidade hoteleira nas Caldas de S. Paulo, mas viu certamente esfumar-se, no último mês, muitos dos turistas que a procuravam para uns dias de lazer nesta região do interior do país. “Quando eu ouço falar que a agricultura é o parente pobre em termos de incentivos, até pode ser, mas quando falamos de turismo então estamos a falar do parente pé descalço”, garante o empresário que vê com preocupação a diminuição da procura dos destinos de “Interior” desde a tragédia dos incêndios. “Já tinhamos sentido isso depois de Pedrogão e agora voltamos a sentir, as pessoas têm medo de vir para o Interior”, afirma o promotor turistico, para quem as medidas avançadas pela tutela não chegam para recuperar os prejuizos neste setor.
Um mês depois do “pior dia de sempre” para o concelho de Oliveira do Hospital, o presidente da Câmara, José Carlos Alexandrino, fala na necessidade dos apoios do Estado chegarem rapidamente ao tecido empresarial e mostra-se inconformado com as ajudas, embora já reforçadas, a um setor “estratégico” como é a agricultura, que ainda no dia do fogo, se provou, que “nos defendeu de milhares de mortos”, aludiu. “É preciso olhar para isto porque eu vejo muitas pessoas a quererem abandonar e isso é que eu não gostaria que acontecesse no meu concelho”, confessa o autarca, defendendo um aumento dos apoios ao setor agrícola e industrial do concelho, ao nível do que foi aprovado para Pedrogão.
Também o presidente da Associação de Vitimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, Luís Lagos, voltou a frisar a urgência da chegada dos apoios ao tecido económico e fala mesmo na possibilidade de avançar com uma ação contra o Estado, caso as ajudas às empresas lesadas nos incêndios de 15 de outubro não sejam iguais a Pedrogão.
In Folha do Centro