Táxi atropela 4 crianças no Porto
"A minha menina está em coma e os médicos não me dão muitas esperanças”, dizia à porta do serviço de Urgência Pediátrica do Hospital de S. João, no Porto, Ana Paula, mãe da pequena Tânia que ficou gravemente ferida num atropelamento que atingiu quatro crianças, entre os 6 e 13 anos. Um taxista com uma taxa proibida de álcool, que saía de um túnel, embateu violentamente contra as meninas que passavam de mão dada na passadeira, ontem às 15h50, na Praça das Flores, Porto.
O cenário que as testemunhas encontraram era de grande sofrimento. As crianças estavam espalhadas pela estrada, sendo que em Tânia e Soraia – ambas de 13 anos – era ainda visível o sangue que lhes escorria no rosto. Cátia e Mariana, de 8 e 6 anos, apesar de terem sido projectadas cerca de dez metros, sofreram apenas ligeiras escoriações. Em estado grave ficaram as duas raparigas mais velhas do grupo de vizinhas, todas moradoras na Rua das Antas. Tânia Araújo está em coma, enquanto que a pequena Soraia fracturou a bacia e os dedos de uma das mãos.
No local do atropelamento não eram visíveis marcas de travagem e o taxista, de 44 anos, residente na freguesia de Campanhã, fugiu de imediato. Só mais tarde é que se entregou na esquadra PSP. Aí se confirmou que o homem tinha uma taxa de alcoolemia de 0,92 g/l – o máximo legal permitido é 0,49 gr/l. “Presumivelmente, se ficasse no local seria muito superior ”, disse fonte da polícia.
Esta atitude enfureceu os familiares de Tânia que no hospital desesperavam por novidades sobre o estado da menina. “Ele só se entregou porque um dos colegas através do Rádio Táxis o denunciou”, afirmou um familiar.
As quatro meninas tinham saído como faziam habitualmente para brincar junto a um fontanário perto do local onde moram. Tudo normal, até ao passar a passadeira as meninas foram literalmente varridas pelo táxi. Poucos minutos depois, chegaram os vizinhos e os familiares que se depararam com um cenário assustador.
RECLAMADA SEGURANÇA
“As meninas gemiam de dor e víamos sangue na cabeça da Tânia”, contou ao CM, o vizinho Rodrigo Caldas. Os moradores sentiam-se indignados por o local não ter semáforos, o que leva a que os carros que saem do túnel que dá acesso à Praça das Flores venham a grande velocidade. “As lombas colocadas à saída do túnel não é suficiente. Há uns tempos foi uma velhinha que morreu aqui. Isto é perigoso”, afirmou Rodrigo.
Também Paulo Lemos, que assistiu ao acidente, não esquecerá a imagem das crianças espalhadas na via pública. Não pensou duas vezes e partiu em seu auxílio. “Peguei numa das meninas e tentei ajudá-la, mas o INEM chegou de imediato”, disse.
FAMILIARES ESTÃO ANGUSTIADOS
À porta do serviço de Pediatria do Hospital S. João era impossível aos familiares de Tânia esconderem o nervosismo. A mãe, Ana Paula, não continha as lágrimas e o pai, José, não conseguia parar de andar de um lado para o outro.
“As últimas indicações que tivemos dos médicos é que ela está em coma mas está estabilizada. Colocaram-lhe um dreno na cabeça“, disse ao CM uma das três irmãs de Tânia, Cátia Araújo, de 19 anos. O chefe da equipa do Hospital de S. João, Afonso Esteves, revelou que “duas crianças estão em estado grave e as outras duas deverão ter alta em breve, uma vez que não inspiram cuidados”. O taxista, depois de se entregar à PSP, acabou por ser constituído arguido – por atropelamento com fuga e omissão de socorro às vítimas.
"UM CASO QUE LAMENTAMOS"
A Raditaxis, a maior central de táxis da cidade do Porto, lamenta “o acidente, o facto de quatro crianças terem ficado feridas e que o profissional do volante estivesse a trabalhar com taxa de álcool superior à permitida por lei”. Mário Ferreira, o presidente da Raditaxis, diz que o facto de o taxista não ter parado no local do acidente não tem a ver com qualquer tentativa de fugir à responsabilidade, mas o medo da reacção popular. “A prova de que ele não queria fugir à responsabilidade está no facto de se ter entregue às autoridades poucos minutos depois do desastre”, referiu Mário Ferreira, acrescentando que “se ele tivesse parado e lhe fosse feito o teste de alcoolemia no local, o mais certo é que as pessoas, amigos e familiares, se revoltassem e tentassem fazer justiça pelas próprias mãos”. “Isto é um caso, todo ele, que nós lamentamos profundamente”, diz Mário Ferreira, sublinhando que “o que mais se lamenta é o facto de haver quatro crianças feridas e uma, pelos vistos, com gravidade”.
OUTROS CASOS
Daniela, de cinco anos, foi atropelada na terça-feira no Bombarral. Ainda foi transportada de helicóptero para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mas não resistiu aos ferimentos.
AMARANTE
Mariana, de 11 anos, faleceu a 17 de Fevereiro, depois de ser atropelada numa passadeira, em Telões, por um automóvel que ultrapassava um autocarro.
FELGUEIRAS
Sónia, de 12 anos, foi vítima de atropelamento à porta de casa, em Felgueiras, no dia 30 de Janeiro. Morreu dois dias depois no Hospital de São João, Porto.
ALCOBAÇA
Micaela, 14 anos, foi atropelada no dia 3 de Dezembro de 2007, em Feitosa, Alcobaça, por um camião que ultrapassava um autocarro. Teve morte imediata.
Correio da Manhã
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