sexta-feira, 14 de março de 2008

INEM espera duas horas por maca

Uma ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tripulada pelos Bombeiros Voluntários de Murça, ficou mais de duas horas retida nas Urgências do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes, em Vila Real, a aguardar a entrega de uma maca.

Devido a essa demora, a viatura não pôde responder a uma doença súbita de um idoso, que ocorreu nesse período de tempo em Murça.

Os bombeiros da vila transmontana voltam assim criticar o Hospital de Vila Real pela demora na entrega das macas das viaturas do INEM. Anteontem, e segundo o seu comandante, Joaquim Teixeira, “ tiveram a ambulância retida no Hospital de Vila Real entre as 17h00 e as 19h00, à espera de que a maca e umas talas fossem devolvidas”.

Enquanto isso, o concelho ficou privado do seu único meio de socorro em caso de emergência médica.

Joaquim Teixeira acentuou a sua revolta, quando contou ao CM que, enquanto esperavam a entrega da maca, houve, por volta das 18h00, uma chamada para que a ambulância do INEM socorresse um idoso afectado por doença súbita em Murça. “Não tínhamos, como é óbvio, os meios adequados de pré- -socorro como os que tem uma ambulância do INEM. O que valeu ao idoso foram dois tripulantes de ambulância e uma viatura de transporte de doentes, que acabaram por o levar rapidamente ao Centro de Saúde de Murça.”

A ira de Joaquim Teixeira vai mais longe ao focar outro pormenor do incidente nas Urgências do Hospital: “Quando o motorista da corporação, por volta das 18h00, perguntou ao chefe de serviços quando iriam devolver o equipamento, ele disse que não era nada com ele mas com um enfermeiro e depois o enfermeiro respondeu que era com o chefe de serviços. Um jogo do empurra quando em causa estavam vidas humanas. Isto é um escândalo!”

Perante a demora da disponibilização das macas, Joaquim Teixeira teve de telefonar directamente para o Centro Hospitalar de modo a disponibilizarem a maca das Urgências, o que viria a acontecer já depois das 19h00.

“Se tenho um caso de vida ou morte no período da ausência do meio do INEM, as consequências podem ser trágicas”, sublinha o comandante dos Bombeiros de Murça.

Joaquim Teixeira diz que, devido à demora na entrega da maca, teve a ambulância ocupada quase quatro horas. “Tinha ido a Candedo buscar um homem que sofrera uma aparatosa queda de uma árvore, ferindo-se gravemente na coluna. Quase uma hora de viagem para cada lado, mais o socorro ao ferido e as duas horas à espera da maca. Está a ver o tempo que não é...”, disse o comandante.

O CM procurou obter um esclarecimento do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes sobre este assunto, mas a instituição não respondeu à nossa solicitação.

"FALTA OUTRA AMBULÂNCIA"

O comandante dos Bombeiros de Murça, Joaquim Teixeira, desde há muito que pede para que seja encontrada uma solução para estes problemas. “Falta outra ambulância do INEM. Esta ficaria de reserva. Tem seis anos e já completou o seu ciclo de vida, que é de apenas cinco. A nova ficaria activada em permanência e o socorro de emergência estaria garantido nos casos em que houvesse mais do que uma solicitação ao mesmo tempo. Convém não esquecer que, para além da nossa área de intervenção que abrange o concelho de Murça, prestamos assistência a algumas freguesias dos concelhos vizinhos, nomeadamente de Alijó.”

UMA SITUAÇÃO QUE SE REPETE

Não é a primeira vez que ocorre aos Bombeiros Voluntários de Murça uma demora de duas horas na entrega da maca. Já em 2007 e 2008, segundo o comandante da corporação, sucedeu o mesmo. “Até tive de ligar para o hospital três vezes a exigir que me libertassem o equipamento, para que a tripulação e ambulância pudessem regressar a Murça. Começa a ser uma prática comum”, observou. Em Fevereiro, o director do Serviço de Urgências garantiu que as queixas não correspondiam à realidade. “Sempre que chega uma ambulância com utentes acamados, os mesmos são transferidos para macas do serviço e a da ambulância fica de imediato libertada. O tempo de espera pode contabilizar-se em alguns minutos, que variam entre os cinco e os dez.” Mas abriu uma excepção: “Quando o doente não tem condições clínicas para ser transferido e necessita de observação médica e realização de exames complementares de diagnóstico. É nestes casos que o Centro Hospitalar admite alguma demora.”


MEIOS E CAMINHOS

DISTÂNCIA

A distância de Murça ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes, na freguesia de Lordelo, Vila Real, é de 35 quilómetros. Uma ambulância demora, em média, 20 minutos a realizar esse percurso. O gelo e o nevoeiro são os principais obstáculos no Inverno.

ESTRADA

Dadas as características geográficas do concelho – com aldeias em zonas de montanha –, os bombeiros têm dificuldade em chegar aos locais. Há aldeias que distam da vila cerca de 25 quilómetros, como Sobreira, mas a sinuosidade da estrada atrasa a deslocação do socorro.

VIATURAS

Os Bombeiros de Murça têm uma ambulância do INEM e três viaturas de transporte de doentes (com quatro, oito e dez anos). São das corporações do distrito com mais tripulantes de ambulâncias de socorro.

Correio da Manhã