quinta-feira, 19 de julho de 2012

Madeira: População passou a noite com "o coração nas mãos"

Em segundos as chamas aproximaram-se das casas. Foi uma noite de angústia e susto em Palheiro do Ferreiro, Funchal.
Moradores do Palheiro Ferreiro, no concelho do Funchal, onde ontem deflagrou um incêndio de grandes proporções, confessaram à agência Lusa que passaram a noite com o "coração nas mãos", temendo que os reacendimentos ameaçassem as casas.

"Foi uma noite péssima", relatou Rita Pontes, de 66 anos, que não consegue evitar as lágrimas de tristeza por uma tragédia que quase lhe bateu à porta.

"Nem sequer sei o que lhe diga, isto é uma tristeza", desabafou, olhos fixos no horizonte, onde o fumo teima em permanecer, e recordando os momentos em que a "aflição" se abateu sobre a família.

"Estávamos a jogar dominó e a minha neta saiu à rua e disse que havia fumo vermelho. Foi em segundos que as chamas se aproximaram das casas", contou a moradora, assumindo ter ainda "o coração nas mãos" com "medo dos reacendimentos".

No miradouro Lombo da Quinta, onde os turistas aproveitam para ver a vista privilegiada sobre a baía do Funchal, Rita Pontes observa agora o negro da paisagem, outrora verde. No mesmo local, o marido, Martim Pontes, que fez 67 anos na quarta-feira, declarou, depois de elogiar o "trabalho incansável dos bombeiros": "Fogo como este só vi na televisão".

Nuno Ferreira, de 32 anos, parou no miradouro, ação repetida por dezenas de curiosos, para ver as consequências de um incêndio igual ao qual não tem memória.

Uma noite na rua

"Foi uma noite péssima, passei-a na rua", explicou, salientando que o fogo esteve ao lado da sua habitação. Maurílio Alves, de 60 anos, acrescentou: "Passei a noite, acordado, em casa. Foi uma angústia, a família toda, a vizinhança toda. Então não é para uma pessoa ter o coração nas mãos?".

"No meu caso, coloquei os documentos, telemóveis e fotografias dos três filhos no carro, para caso fosse necessário fugir estar pronta. Depois era só meter a família e os cães no carro", acrescentou Susana Teixeira, de 50 anos, satisfeita por não ter sido necessária a fuga, apesar de um filhos insistir em abandonar a casa.

Susana Teixeira referiu que "usou e abusou das mangueiras", que ainda não arrumou, para a eventualidade de ainda serem necessárias. Como ela, outros vizinhos seguiram-lhe o exemplo. E já constataram que a capela de Nossa Senhora da Boa Esperança foi poupada.

"Foi um milagre", considerou Rita Pontes, esperançada que a santa seja portadora de boas notícias: "que traga chuvinha para apagar todos os incêndios, é o que peço".

In "Expresso"