Corporação está preocupada com subida dos combustíveis
Numa altura em que se ultimam os preparativos para o 86º aniversário, a direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital (AHBVOH) está preocupada com a subida em flecha dos preços dos combustíveis.
Em entrevista ao Correio da Beira Serra, o presidente Arménio Tavares – há 12 anos no cargo – deu conta desta inquietação, ao mesmo tempo que se mostrou também satisfeito com a chegada de uma nova ambulância, equipamento de protecção individual e da entrada em funcionamento da recém-criada Equipa de Intervenção Permanente (EIP).
Correio da Beira Serra – Passada já mais de uma década, o que é que o mantém à frente da direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital (AHBVOH)?
Arménio Tavares – Em primeiro lugar, porque nos actos eleitorais não tem aparecido lista nenhuma. As próprias assembleias-gerais eleitorais têm sido de reduzida afluência. Realizam-se praticamente com os membros dos órgãos sociais e mais um ou outro sócio que aqui aparecem. Num universo de perto de dois mil associados aparecem dois ou três fora dos órgãos sociais. Mas, isto não se verifica só aqui. Eu estou noutra organização que é a Cooperativa Agro-pecuária da Beira Central que tem perto de quatro mil associados e passa-se exactamente a mesma coisa. Nunca apareceu uma lista para constituir uma alternativa.
CBS – Considerava benéfico o aparecimento de outra lista?
AT – Pois com certeza. Era bom para revitalizar isto e passar o testemunho a outros. Não podem ser sempre os mesmos a ficar e a despender do seu tempo disponível à sociedade. Se a tarefa fosse repartida por outros era melhor para a sociedade em geral e para nós próprios. É sempre bom quando surgem ideias novas e pessoas com outra mentalidade para se habituarem a estes cargos. Eu também entrei aqui como vice- presidente, aprendi um pouco destas coisas e quando fui para presidente já não estava propriamente em branco. Mesmo assim e como as pessoas também se vão cansando, a lista não tem sido sempre a mesma, há um ou outro elemento que é ajustado, mas nunca é uma renovação global.
CBS – Para o ano terá início um novo ciclo, um novo mandato. Está disposto a continuar?
AT – Se não houver mais ninguém e a saúde me permitir disponho do tempo para isso, mas gostava que aparecesse alguém.
CBS – Qual a avaliação que faz de uma instituição que está prestes a comemorar o 86º aniversário, que também começa a sentir a crise do associativismo?
AT – Há vários aspectos a considerar na vida desta casa: o voluntariado, os funcionários e os dirigentes. Em relação ao voluntariado, posso fazer uma avaliação positiva, não temos sentido crise nesta área. Grande parte do nosso corpo de bombeiros é jovem e têm sucessivamente havido novas adesões. No caso da fanfarra até foi preciso limitar as inscrições, porque isso implica fardamentos e despesas extras. A nível dos bombeiros passa-se a mesma coisa, tem havido muita adesão na camada da juventude, permitindo-nos ter um corpo de bombeiros com muita gente nova e apetitosa de conhecer a formação de bombeiros. Na parte dos assalariados temos mantido. Não há necessidade de expandir na área dos cuidados de saúde, até porque não é um sector muito rentável para a associação, tal como não o é para outras congéneres.
CBS – Com quantos elementos humanos conta a AHBOH?
AT – O nosso corpo de bombeiros anda na ordem dos 140 elementos, de entre os quais 30 são mulheres e 16 são assalariados. Os assalariados asseguram os serviços administrativos, a central e a prestação dos cuidados de saúde, bem como o combate a incêndios em caso de emergência.
CBS – Quais entende que foram as principais conquistas da corporação que dirige?
AT – A Fanfarra foi uma das conquistas. Já era uma pretensão que vinha do tempo do comandante Serra mas que não era fácil de atingir. Surgiu a possibilidade, a ideia germinou, frutificou e aí está o produto final. Na área dos bombeiros propriamente dita nós prevíamos e vai acontecer, que se constituísse uma equipa de profissionais permanente para o combate a incêndios, porque os voluntários trabalham e não é fácil algumas empresas disponibilizarem os seus funcionários para irem acudir a um fogo. Constituindo-se de facto um corpo, ainda que restrito de profissionais, é sempre uma grande vantagem para aquele ataque imediato. Nos bombeiros em geral vinha-se a falar nisso há muito tempo, finalmente concretizou-se. Penso que a nível do distrito, nós seremos dos primeiros com a Equipa de Intervenção Permanente (EIP) em funcionamento. A equipa é constituída por cinco elementos, embora ainda só tenhamos três em actividade desde o dia 1 de Março, faltam outros dois por questões relacionadas com a entidade patronal para a qual trabalhavam. No próximo mês a equipa está completa.
CBS – É uma equipa assalariada que vai funcionar durante todo o ano, por um período de três anos. Durante o Inverno como vai decorrer a actuação desta equipa?
AT – Fora do período de incêndios florestais, a equipa vai desenvolver trabalhos na área da vigilância e da prevenção e também estão disponíveis para desenvolver tarefas diárias dos bombeiros.
CBS – A EIP resultou de um protocolo assinado entre a Câmara Municipal, a AHBOH e a Autoridade Nacional de Protecção Civil. A quem cabe assegurar os salários dos cinco bombeiros?
AT – A Associação não despende de qualquer verba para a nova equipa. Cinquenta por cento são suportados pela Câmara Municipal e os restantes pela Autoridade Nacional de Protecção Civil.
CBS – Defende a profissionalização dos corpos de bombeiros?
AT – Não totalmente. Defendo a existência de um corpo restrito de profissionais em todas as corporações para acudirem às situações de emergência.
CBS – Não poderá colidir com o espírito de voluntariado?
AT – O que se passa é que a exigência que vem da população, impõe situações que é preciso compatibilizar e só com o voluntariado não é possível. Quando os bombeiros chegam um pouco mais tarde a um incêndio porque têm que sair das empresas para acudir o fogo, as populações reclamam. Agora, em caso de emergência, a EIP sai imediatamente.
CBS – Ainda ao nível das pretensões da AHBVOH, no ano passado aquando do início do presente mandato falou a este jornal acerca da necessidade de ampliação do quartel no que respeita ao parqueamento de viaturas. Actualmente, qual é o ponto da situação?
AT – Já construímos um pequeno parqueamento que ainda não está completo, mas já tem cobertura, só falta fechar. Mas, a nossa ideia é mandar executar um projecto com vista a fazer o aproveitamento subterrâneo do quartel. O projecto faz-se com alguma facilidade, a execução é que depende dos custos. A nossa intenção é ainda lançar um concurso de ideias com a finalidade de se fazer o melhor aproveitamento do espaço.
CBS – E no que respeita ao próprio quartel?
AT – No edifício em si, não temos tido grandes problemas, a não ser – e é uma preocupação – constituir aqui um acesso ao segundo andar para deficientes. É uma lacuna que se verifica na generalidade das corporações.
CBS – Como é que tem funcionado a aposta da AHBOV no que respeita à formação do corpo de bombeiros?
AT – Continuamos a fazer formação. A direcção apoia e incentiva para que o comandante faça tudo o que estiver ao seu alcance, para dar mais formação ao corpo de bombeiros. Isso tem sido feito, neste momento os nossos bombeiros estão a participar numa formação na Lousã, está também prevista uma outra ao nível da utilização dos Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE). A formação tem estado sempre na nossa mente e não regateamos esforços financeiros para a pôr em prática. Consideramos mais importante apostar na formação do que na aquisição de viaturas.
CBS – Como se tem vindo a processar a articulação com a Câmara Municipal, enquanto responsável concelhia pela Protecção Civil?
AT – Desde que foi criado o gabinete florestal, relativamente ao passado, as coisas funcionam muito melhor. Na Câmara existe um sector exclusivamente dedicado a esta matéria e é agora mais fácil articular a sua acção com os comandantes das duas corporações do concelho. Neste momento, não temos grandes razões de queixa, embora pensemos que se poderia fazer mais, mas há com certeza limitações por parte da câmara, ao nível de equipamentos e pessoal para se fazer tudo num ano só. Não está tudo feito, mas tem-se feito a prevenção gradualmente como a abertura de caminhos e definição de pontos de água. Aquilo que é prioritário está-se a fazer, embora não com a velocidade que seria desejável. É importante que esta dinâmica continue e haja uma resposta mínima à execução do programa de prevenção.
CBS – No âmbito do combate aos fogos como avalia a articulação dos BVOH com outras equipas como os sapadores e os GIP?
AT – Tendo em conta uma reunião em que estive presente sobre a avaliação do desempenho desta nova missão, considero que a coordenação está muito melhor do que no início. À medida que o tempo avança, a coordenação tende a ser mais perfeita. Ainda há défices, mas que estão a ser corrigidos pelas estruturas. Comparada com o primeiro ano de trabalho conjunto, a coordenação realizada no ano passado foi mais profícua.
CBS – No campo dos primeiros socorros ainda são recentes os episódios que colocaram em causa a prestação dos bombeiros, bem como a articulação entre corporações e INEM. Qual é o cenário que se verifica na AHBVOH?
AT – A nossa corporação não tem nenhuma razão de queixa no relacionamento com o INEM. Nunca tivemos qualquer problema. A articulação é desenvolvida com base no que está previsto a nível nacional. Temos cá uma viatura que é do INEM, mas manobrada por nós e nunca houve problema. Eles suportam os custos relacionados com o desgaste do veículo e com equipamentos. É esta ambulância que usamos em caso de urgência. As nossas ambulâncias são usadas para transportes e serviços pré-programados. Se calhar sempre se verificaram estas situações, mas agora é que há uma maior mediatização desses casos. Considero até que esta mediatização seja benéfica para resolver situações que iam sistematicamente acontecendo, para que não se repitam no futuro.
CBS – Como é que se processa a prestação dos primeiros socorros no período nocturno? Tenha-se em consideração o episódio que recentemente foi tornado público relativo a uma corporação que não tinha ninguém disponível para prestar assistência numa situação de urgência…
AT – Há sempre um grupo nocturno que dorme aqui e é esse que avança e responde às chamadas. São voluntários que asseguram o período nocturno. De acordo com a escala, alguns profissionais também vão assegurando esse serviço, mas em regime de voluntariado.
CBS – Quantas ambulâncias estão ao serviço da corporação?
AT – Hoje mesmo (dia 12 de Março) vamos receber uma ambulância nova que nos é oferecida e que perfaz um total de 14 ao serviço da corporação, sendo que três estão equipadas com monitores e preparadas para o uso do DAE. Não temos problemas com falta de viaturas, a frota até já é demais, embora haja algumas ambulâncias que começam a ficar mais encostadas por serem mais antigas, não têm tantas condições de conforto. No capítulo de transporte de doentes estamos muito bem servidos.
CBS – E ao nível do combate a incêndios?
AT – Também. No aniversário anterior foi-nos oferecido um veículo de combate a incêndios. Quer da parte de saúde, quer dos fogos florestais, não temos nenhuma necessidade premente. Temos 22 viaturas de combate a incêndios e é agora importante manter as que temos e renová-las.
CBS – No ano passado receberam uma viatura de combate a incêndios, este ano vão receber uma ambulância. De certa forma têm sentido a generosidade da população…
AT – Quando sentimos a necessidade de uma viatura ou outro equipamento vamos de encontro às pessoas que julgamos ter disponibilidade para ofertar. Felizmente temos tido boa receptividade quer na Câmara, quer nos particulares. Vamos ver o futuro, mas tomando por base o passado estamos satisfeitos. Neste momento, até está a decorrer um peditório para comprar um autocarro para o transporte da fanfarra, que não temos. A Câmara nem sempre está disponível, porque não pode, para as datas que nós pretendemos sair e decidimos jogar pela aquisição de um veículo usado, mas em bom estado. O peditório está a decorrer muito bem, porque há um objectivo concreto. Não estamos a pedir uma esmola para os bombeiros, sem dizer para quê. Há sempre uma finalidade. Esperamos poder apresentar o autocarro na cerimónia de aniversário do próximo ano.
CBS – Entende que a corporação deveria estar dotada de outras respostas? Tome-se em atenção a equipa de Suporte Imediato de Vida (SIV) já instalada no concelho de Seia…
AT – Penso que sim. Até pela área que abrange no concelho, deveria estar apetrechada para isso. Penso que o comandante já fez notar essa preocupação a todos os responsáveis da formação distrital. Ainda não foi possível, mas julgo que não está fora de hipótese a nossa corporação poder vir a ser contemplada com essa unidade. Seria uma mais valia no socorro às vítimas.
CBS – Ainda bem fresca está também a discussão em torno dos desfibrilhadores e o facto de os mesmos só poderem ser manuseados por médicos. Como é que se posiciona relativamente a esta matéria, numa altura em que tanto se fala em encerramento dos serviços de urgência?
AT – Nós temos dois desfibrilhadores que não podemos usar, mas se tivermos necessidade, usamo-los de certeza. Já vi uma demonstração feita pelo fornecedor e percebi que aquilo é de uma utilização simples e sem perigos absolutamente nenhuns. Basta seguir os procedimentos correctamente que a máquina faz tudo e não faz nenhuma operação errada. Tenho conhecimento de que a legislação vai ser alterada brevemente, possibilitando o uso dos DAE pelos bombeiros com formação adequada. Não concordo que os aparelhos só possam ser usados pelos médicos, porque os DAE são tão sofisticados que não permitem que se façam manobras erradas. Isto é tão intuitivo que, neste momento, a legislação em vigor é absurda.
CBS – A CMOH prepara-se para inaugurar o monumento de homenagem ao falecido comandante Manuel Gouveia Serra e aos bombeiros em geral. Como avalia esta atitude da CMOH?
AT – Avalio positivamente. É o reconhecimento a um homem que dedicou muitos anos da sua vida à causa dos bombeiros, do bem-estar das pessoas e dos seus bens. Estão a homenagear uma pessoa, mas no fundo estão a homenagear os bombeiros do concelho e de Portugal, porque a causa dos bombeiros é igual em todo o lado. É evidente que o ênfase da homenagem recai sobre a pessoa que foi o falecido comandante Serra que todos conheceram, com uma intervenção positiva, dedicada e empenhada.
CBS – Como é que olha para a relação que existe entre bombeiros e a sociedade civil?
AT – Num ou noutro caso em que não é possível uma rapidez tão grande na deslocação dos bombeiros para os fogos, há uma ou outra crítica no sentido de que quando os bombeiros chegam já lá deviam estar. Com a questão das EIP as críticas vão-se atenuar, mas note-se que as críticas não colocaram em causa a prontidão dos bombeiros para os fogos.
CBS – A corporação vai assinalar 86 anos de actividade. Qual é a situação financeira desta casa?
AT – Felizmente não temos passado por dificuldades financeiras. Temos uma gestão equilibrada que nos permite guiar o barco sem grandes sobressaltos. Preocupa-nos sim a evolução dos preços dos combustíveis. Todos os dias temos que rodar e, em contrapartida, não se verifica uma actualização do preço do quilómetro por parte da Administração Regional de Saúde do Centro. Isto são perdas e esta situação preocupa-nos e tem que ser resolvida. A continuar esta escalada nos preços dos combustíveis têm que ser tomadas medidas de correcção do pagamento às corporações porque, caso contrário, começamos a empobrecer. Cabe agora à Federação Distrital ou à Liga dos Bombeiros Portugueses alertar quem de direito sobre esta situação, porque este é um problema que afecta todas as corporações nacionais.
Correio da Beira Serra
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