sexta-feira, 23 de junho de 2017

Deputados do PSD contam o caos que viveram no terreno

Dois sociais-democratas que estiveram no terreno denunciaram esta quinta-feira, na reunião do grupo parlamentar, uma campanha de “propaganda sem respeito pelo que aconteceu” durante os incêndios na zona Centro. Dizem que falhou a primeira resposta às chamas, o sistema de comunicação e a coordenação de meios. Um deputado contou que andou a deslocar familiares e que a sua filha foi encaminhada para a “estrada da morte”, mas tomou outro caminho.


Foram testemunhos muito duros, comovidos e revoltados, conta quem assistiu: dois deputados do PSD que nos últimos dias estiveram nos locais dos grandes incêndios do centro do país, foram esta quinta-feira à reunião do grupo parlamentar social-democrata denunciar uma realidade que nada tem a ver com o discurso oficial de que foi feito tudo o que podia ter sido feito para combater os fogos.

"A Proteção Civil falhou redondamente", afirmou Pedro Pimpão, deputado eleito por Leiria, que por várias vezes se emocionou durante o seu relato. Também Maurício Marques, eleito por Coimbra, descreveu dias de confusão e descoordenação entre as autoridades, contando as dificuldades por que passou para conseguir tirar familiares de locais onde a Proteção Civil não chegou.

Pedro Pimpão, que desde sábado até quarta-feira esteve nos concelhos afetados, afirmou a sua revolta por ouvir um discurso oficial que não bate certo com a realidade em que esteve mergulhado nos últimos dias. "Custa-me ver esta propaganda sem respeito pelo que aconteceu", afirmou o deputado, ouvido em total silêncio pelos seus colegas de bancada, durante a reunião que decorreu, ao fim da manhã desta quinta-feira, à porta fechada.

De acordo com fontes sociais-democratas que estiveram no encontro, o deputado de Leiria reconheceu que é preciso respeitar o luto, mas acrescentou que "já chega" e que "é preciso que as pessoas saibam a verdade". E a verdade que relatou foi assim: falhou a primeira ajuda após o início do incêndio, falhou o sistema de comunicação e, por isso, falhou a coordenação de meios.

"Temos o dever de não deixar isto ser silenciado"

Pedro Pimpão deu conta de aldeias completamente isoladas, sem qualquer tipo de apoio, pessoas que pediram ajuda "a meio da tarde", "muito antes das mortes", sem que nunca aparecesse ajuda alguma.

E, contou, o centro de saúde de Castanheira de Pera estava fechado e quando abriu não tinha material. "Os deputados do PSD têm o dever de não deixar isto ser silenciado", exortou o parlamentar leiriense.

Também Maurício Marques, deputado eleito por Coimbra e ex-autarca de Penacova, contou o que viveu no terreno: teve de se fazer à estrada para acudir a familiares que não conseguiam o apoio das autoridades e chegou a receber instruções de um responsável da Proteção Civil para seguir por uma estrada que, afinal, veio a descobrir que estava fechada. Contou também que a sua filha foi encaminhada para a "estrada da morte", e só se salvou porque passou por debaixo dessa estrada e dirigiu-se para a A13, em vez de seguir o caminho fatal de outros automobilistas.

"Sem informação para fazerem melhor"

Ao Expresso, este deputado conta que viu no IC8 uma jovem a correr em direção ao incêndio sem que qualquer autoridade os travasse. "O que eu pensei na altura foi que se a estrada estava cortada para os carros devia estar cortada também para as pessoas".

Maurício Marques diz não ter dados para tirar conclusões sobre o caos a que assistiu, mas não tem dúvidas de que no mínimo houve muita "desinformação". "Como é evidente não acredito que a GNR estivesse a fazer o que fez de ânimo leve, ninguém dirige as pessoas para uma estrada onde depois acontece aquilo. Se o fizeram foi porque não tinham a informação para fazer melhor", diz ao Expresso.

O clima, durante a reunião da bancada do PSD, foi muito pesado e os relatos reforçaram a convicção de que há muitas perguntas por fazer e responsabilidades por apurar. "Já é óbvio para toda a gente que houve muitas falhas e que a falta de coordenação foi gritante", diz um deputado com ligação aos distritos atingidos, lamentando que Marcelo Rebelo de Sousa tenha sido o primeiro a lançar a ideia de que foi feito tudo o que era possível.

In Expresso