quarta-feira, 16 de abril de 2008

Incêndios: LPN alerta para efeitos "desastrosos" da quantidade de carbono lançado para atmosfera

As elevadas quantidades de dióxido de carbono que os incêndios florestais lançam para a atmosfera pode provocar efeitos "desastrosos" a médio e longo prazo, alertou hoje um membro da Liga da Protecção da Natureza (LPN).

Joaquim Sande Silva, que quinta-feira participa num encontro internacional sobre os impactos económicos e ambientais dos incêndios florestais, disse à Agência Lusa que, durante os fogos, a queima de matéria orgânica que constitui a floresta liberta para atmosfera "imenso dióxido de carbono", provocando alterações no clima.

Como exemplo, o ambientalista referiu que os incêndios em Portugal em 2003 libertaram para a atmosfera "metade de todas as emissões provenientes dos transportes" no país.

Naquele ano, os incêndios florestais destruíram cerca de 425 mil hectares de florestas.

Por outro lado, o membro da LPN salientou que a contaminação das águas, erosão dos solos e destruição da paisagem são algumas das consequências imediatas dos incêndios florestais.

Segundo Joaquim Sande Silva, a qualidade da água é afectada logo após o fogo, mas no ano seguinte os efeitos já não são sentidos.

A longo prazo, os impactos são sentidos ao nível da fauna e da flora ao surgir uma "invasão de espécies exóticas de grande resistência e que não se conseguem erradicar", adiantou.

O ambientalista referiu que o carvalho, uma árvore muito predominante em Portugal, é substituído por acácias, planta exótica que também surge junto aos rios em substituição do freixo.

Para Joaquim Sande Silva, os impactos ambientais estão "obviamente relacionados" com os económicos, tendo em conta que a rearborização da área florestal ardida tem custos.

O especialista em fogos florestais Hermínio Botelho destacou à Agência Lusa que um dos principais impactos é a perda do património florestal português.

"A produção do sector florestal corresponde a 12 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional", salientou o investigador do departamento florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

O especialista disse igualmente que após um incêndio florestal apenas é contabilizado a área ardida, não sendo avaliado no momento os impactos ambientais, como o número de aves e de espécies que podem desaparecer.

Hermínio Botelho realçou também os impactos sociais que os incêndios têm nas populações do interior do país, em que o recurso mais importante é a floresta.

"Os fogos vão alterar drasticamente os proveitos das populações que vêem as suas matas destruídas e ficam muitas vezes sem meios de subsistência", afirmou, acrescentando que "vão perder um recurso fundamental", apesar de muitas vezes venderem a madeira queimada, mas a um preço simbólico.

O especialista adiantou que os fogos também estão a contribuir para a desertificação do interior, uma vez que as populações não têm "motivações" par renovar a floresta devido ao "medo" que sentem em que um novo incêndio volte a destruir as matas, optando por ir viver para a cidade.

Além do despovoamento, o investigador disse que os incêndios também estão a contribuir para "a desertificação física" do interior devido à vegetação que desaparece.

Organizado pela Liga dos Bombeiros Portuguesas (LBP), o encontro internacional, a decorrer quinta-feira, em Sintra, vai reunir perto de quatro centenas de técnicos e elementos de comando de bombeiros, que vão analisar as experiências na Europa, Estados Unidos, Portugal e o caso do Verão de 2007 na Grécia.

Lusa