Moradores das Meãs (Pampilhosa da Serra) recusaram sair para defender a aldeia
Povoações
de Meãs e Aradas, no concelho da Pampilhosa da Serra, ameaçadas por uma frente
de fogo descontrolada com origem no incêndio de Arganil
Ouvido pela agência Lusa pelas 18:30 de hoje, Hugo, natural
de Meãs, contou que “o vento e a vegetação” à volta da aldeia potenciaram as
chamas, que desceram uma encosta num ápice, depois de terem estado a lavrar nas
imediações nas últimas 48 horas.
“O fogo chegou aqui com muita força. Temos muitos bombeiros
e estamos a fazer o possível por ajudar [a combater as chamas]”,
argumentou o popular.
Hugo contou ainda que nas Meãs estavam cerca de 300 pessoas,
entre residentes habituais e outros que, morando fora, regressam no verão: “[A
aldeia] já foi evacuada, quem quis sair saiu, quem quis ficar está cá. E vamos
ajudar a defender as nossas coisas”, afirmou.
O fogo junto às Meãs descontrolou-se pelas 17:00 de hoje,
avançou encosta abaixo, tendo sido travado por ação de bombeiros e populares na
parte cimeira da aldeia, que impediram que chegasse às primeiras casas,
constatou a reportagem da Lusa no local.
As chamas acabaram por se dirigir para uma vertente lateral,
avançando livremente pela floresta, a grande velocidade, enquanto várias
pessoas e operacionais, apoiados por dois helicópteros, tentavam salvaguardar o
núcleo urbano da povoação.
Ouvido pela Lusa, o senhor Barata, morador em Coimbra, mas
que está de férias na aldeia de onde os pais são naturais, disse que a povoação
esteve “cercada por uma das laterais”.
“Andou a moer no topo da serra durante dois dias, devido ao
número de incêndios não houve hipótese de virem cá muitos bombeiros. Hoje, com
a mudança de ventos, isto acelerou que foi uma coisa impressionante, com
remoinhos e muitas projeções”, ilustrou.
“É uma aflição ver tudo a arder tão perto da aldeia”, acrescentou.
Não foi, no entanto, a primeira vez que Barata viu o fogo às
portas em Meãs com a violência de hoje, tendo aludido ao incêndio de 2005 (que
começou em Loriga, no distrito da Guarda, passou para Arganil pelo Piódão e
estendeu-se à Pampilhosa da Serra), mas também a catástrofe que foram os
incêndios de outubro de 2017, que deixaram o interior Centro reduzido a cinzas,
e outros, mais pequenos, ao longo de anos.
“Infelizmente, incêndios aqui é quase um dia normal”,
lamentou.
A frente de incêndio que lavra na freguesia de
Unhais-o-Velho teve origem no fogo que deflagrou em Arganil, na quarta-feira, e
que se estendeu, também, aos concelhos de Oliveira do Hospital, Seia e Covilhã.
De acordo com a página de internet da Autoridade Nacional de
Emergência e Proteção Civil, pelas 19:30 combatiam o incêndio de Arganil um
total de 980 operacionais, apoiados por 332 viaturas e seis meios aéreos.
Portugal continental tem sido afetado
por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões
Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que
motivou a declaração do estado de alerta, em vigor até terça-feira.
Os fogos provocaram um morto e vários feridos, na
maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e
segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção
Civil, ao abrigo do qual deverão chegar, na segunda-feira, dois
aviões Fire Boss para reforço do combate aos incêndios.
Segundo dados oficiais provisórios, até 16 de agosto
arderam 139 mil hectares no país, 17 vezes mais do que no mesmo período de
2024. Quase metade desta área foi consumida em apenas dois dias desta semana.
In Diário de Coimbra
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