Incêndio em Monchique não dá tréguas. “Todos sabiam que a serra de Monchique era a próxima a arder”
Intensidade do fogo de Monchique obriga a que as equipas e meios sejam reforçados. Os produtores florestais falam do plano de prevenção que o Algarve espera há sete meses. Chamas chegam a Portimão.
O incêndio que está a
lavrar em Monchique parece não dar tréguas. É o quinto dia consecutivo que o
Algarve vê as chamas consumirem floresta e casas e, mais de uma vez, a vila de
Monchique está ameaçada. Perante a intensidade do incêndio, o
local está a ser reforçado com operacionais, viaturas e meios aéreos de combate
a incêndios. As chamas já chegaram Portimão
Durante a madrugada de
esta terça-feira, o
fogo chegou mesmo a entrar no perímetro urbano da vila de Monchique,
ficando muito próximo do quartel dos Bombeiros Voluntários de Monchique e de um
antigo convento, e fazendo com que pelo menos uma casa nas proximidades
ardesse. A
situação viu-se agravada pela mudança de direção do vento, que
é um dos fatores que mais está a dificultar o controlo das chamas.
A noite foi dura e os
ventos moderados com rajadas fortes que se fazem sentir esta manhã estão a
dificultar o trabalho dos bombeiros. De acordo com as declarações de Vítor Vaz
Pinto, comandante distrital da Proteção Civil, transmitidas pela SIC Notícias, estão
neste momento 1203
operacionais no terreno, apoiados por 375 veículos e 19 meios aéreos.
Por questões de segurança, a
EDP viu-se obrigada a cortar o abastecimento de eletricidade em algumas
localidades na zona do fogo, nomeadamente em Fóia e Caldas de
Monchique, distrito de Faro. Fernanda Bonifácio, diretora de comunicação da EDP
Distribuição, avançou à agência Lusa que o corte foi um “pedido da Proteção
Civil” e que há zonas sem abastecimento porque houve estruturas que ficaram
completamente destruídas pelo fogo. Em algumas dessas vilas, durante a
madrugada a EDP já colocou geradores.
O fogo já consumiu cerca de 15 a 20 mil hectares e, três dias depois
do incêndio, a destruição já era bem visível. A RTP recolheu algumas imagens, com recurso a um
drone, onde se podem ver casas queimadas, carros carbonizados e árvores
derrubadas pelas chamas. Também a TSF mostrou o cenário e escreve que “no
caminho entre Monchique e Alferce se vê a destruição causada pelo incêndio.
Está tudo ardido de um lado e outro da estrada, postes de eletricidade, placas
indicativas do caminho, candeeiros de iluminação pública retorcidos com o calor
do fogo”.
Até agora registaram-se “108 ocorrências, tendo sido assistidas
79 pessoas e 29 feridos, 28 ligeiros e um grave”, disse esta manhã Vítor
Vaz Pinto. O incêndio, que começou na sexta-feira passado ao início da tarde,
já avançou para o concelho de Portimão.
O comandante distrital da
Proteção Civil apelou para que as pessoas sigam “religiosamente as indicações
das autoridades”. Nas estradas, segundo deu conta a GNR, as
nacionais 266, 266-3, a 267 e as municipais 501 e 502 estão cortadas.
Zona onde começou o fogo espera há meses pelo plano de prevenção
Ao assistir ao cenário de
Monchique, os produtores florestais do Barlavento Algarvio
manifestaram-se. A Associação dos Produtores Florestais do
Barlavento Algarvio diz que “há
cerca de sete meses” que está parado no Instituto de Conservação da Natureza e
das Florestas (ICFN) um plano de prevenção e combate aos incêndios.
Este é um projeto
estruturante para a Zona de Intervenção Florestal (ZIF) da Perna Negra,
precisamente o local onde começou o incêndio de Monchique. O plano prevê, entre
outras intervenções, a criação
de pontos de água, aceiros e de caminhos de acesso para facilitar o combate aos
fogos na serra. Estes aspetos foram precisamente os principais
problemas que os bombeiros enfrentaram quando combateram os mais recentes
incêndios na região.
Há sete meses que o
Algarve espera a aprovação do plano de prevenção e combate aos fogos e de
acordo com o Presidente da Associação dos Produtores Florestais do Barlavento
Algarvio (Aspaflobal), Emílido Vidigal, todos sabiam que “a serra de Monchique
era a próxima a arder”. “Há mais de um ano que todos sabiam que Monchique
estava no topo da lista das zonas com maior risco de incêndios florestais”,
disse ao Público.
E era Monchique um exemplo…
Se recuarmos ao passado
dia 1 de junho, recordamos a visita que António Costa e o ministro da
Administração Interna, Eduardo Cabrita, fizeram a Monchique. O objetivo era
perceberem como estava a ser feita a prevenção no combate aos incêndios na
serra algarvia. Durante a visita, foi referido um estudo do Centro de Estudos
Florestais (CEF), do Instituto Superior de Agronomia (ISA), realizado a pedido
da Estrutura de Missão para os Fogos Rurais e divulgado em maio deste ano, que
mostrava um
mapa de risco de incêndio em Portugal. Monchique ocupava a primeira posição do
ranking.
O que o primeiro-ministro
viu foi uma equipa de sapadores a efetuar a limpeza do terreno, um posto de
vigia e meios (veículos e equipas) que fazem parte do Dispositivo Especial de
Combate a Incêndios Rurais no Algarve. Perante tal, Costa elogiou a vila do
distrito de Faro. “Esta tarde pudemos ver três fases muito importantes da
preparação que, em todo o país, está a ser feita para podermos viver este verão
com maior tranquilidade e maior confiança”, afirmou na altura.
O presidente da Câmara
Municipal de Monchique, Rui André, confrontado com a atual situação, afirmou
que a revelação dos dados do estudo do CEF contribuiu “para pôr o enfoque numa
situação que todos conhecem”. António Costa contrapôs, dizendo que “ter a noção
do risco de incêndio não serve para meter medo, mas para termos todos
consciência de que o fogo é uma ameaça real, para a qual temos que nos
preparar”.
Nas redes sociais, António
Costa disse ontem que está em “contacto permanente com o ministro da
Administração Interna, os autarcas e a AGIF [Agência para a Gestão Integrada de
Fogos Rurais]”.
In Sapo24
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