terça-feira, 4 de setembro de 2012

"Fogo leão devora tudo a grande velocidade"

Um homem carbonizado, dois pilotos feridos na queda de um helicóptero Kamov, três bombeiros feridos, casas ardidas, populações em pânico. Tudo por causa dos incêndios que ontem voltaram a massacrar o País – com mais de 250 ocorrências a mobilizarem cinco mil bombeiros.
        
O maior, que hoje entra no terceiro dia, é o de Mata, Ourém, com chamas num perímetro de 20 quilómetros. Já destruíram seis mil hectares de floresta. Em Seia e Rio de Mel (Oliveira do Hospital), dezenas de pessoas fugiram de casa. Em Águeda e Albergaria-a-Velha as chamas ameaçaram dezenas de casas. "É uma catástrofe! Vivemos momentos de aflição e temos uma vida para lamentar", disse ontem ao CM Paulo Fonseca, presidente da Câmara de Ourém, descrevendo um "fogo leão, que devora tudo a grande velocidade".
 
Além da morte de um morador em Resouro, foram destruídas uma fábrica, várias casas (não habitadas) e barracões, com as chamas a "lamber mais de mil habitações".
 
Os bombeiros contavam ter a situação controlada ao final da tarde, mas o vento voltou a dar força às chamas. "Não temos uma frente activa para combater, mas vários fragmentos, já que se trata de um fogo de saltos, em que a propagação se faz pelas copas, em fogo aéreo, e a grande velocidade", diz o comandante Luís Costa.
 
Em Seia, o fogo nasceu em Carragosela, galgou com força por encostas da Serra da Estrela e obrigou à retirada de 40 pessoas em Sazes Velho. Outras pessoas, em quintas de Corgas e Furtado, foram aconselhadas pela GNR a sair. "Não estamos seguros em casa", lamentou Maria Rodrigues.
 
 
HELICÓPTERO CAIU QUANDO REABASTECIA
 
l Um helicóptero bombardeiro Kamov despenhou-se ontem, às 11h00, quando reabastecia o balde numa lagoa, junto ao parque de merendas de Espite, Ourém. Os dois pilotos, Paulo Loureiro e Diogo Cabral, saíram pelo próprio pé, apenas com ferimentos ligeiros. O aparelho ficou muito danificado, não devendo ter reparação. O CM perguntou à Empresa de Meios Aéreos se a aeronave estava coberta pelo seguro, mas não obteve resposta da empresa pública.
 
 
CHAMAS INFERNAIS OBRIGARAM AO CORTE DA A1
 
n Os fogos também não deram ontem descanso aos bombeiros do norte do País, em especial em Albergaria-a-Velha e Águeda – em ambos os casos a chamas começaram no domingo à tarde. Dezenas de casas estiveram em perigo, um morador ficou ferido e a A1, entre Albergaria e Aveiro, esteve mesmo cortada ao trânsito entre as 19h00 e as 20h00, situação que já tinha também ocorrido ao início da manhã. Ao fecho desta edição, as chamas ainda não tinham dado tréguas aos bombeiros e o vice-presidente da Câmara de Águeda adivinhava mais uma noite infernal.
 
"Tudo aponta para mais uma noite de fogos, temos quase 200 bombeiros no terreno. Para já estamos a conseguir controlar os danos e evitar que as casas sejam atingidas", adiantou à Lusa o vice-presidente, Jorge Almeida.
 
Em Albergaria-a-Velha, o denso mato trouxe muitas dificuldades a mais de 100 bombeiros que só com apoio aéreo conseguiram evitar que o fogo chegasse às casas nos lugares de Frossos e Fontão. Os moradores também tentavam a todo o custo proteger os bens – com mangueiras e baldes de água combatiam o fogo. Deram ainda comida e água aos bombeiros, de forma a dar-lhes força.
 
In "Correio da Manhã" Online