Especialista explica efeitos da nova arma dos bombeiros portugueses no combate a incêndios
Líquido vermelho a cair dos céus: especialista explica efeitos da ‘nova arma’ dos bombeiros portugueses no combate a incêndios
Um incêndio na região de Leiria – mais concretamente em Telheiro, na zona florestal da Quinta da Serradinha – mereceu pronta atuação dos bombeiros para controlar as chamas: ao fim de uma hora, o incêndio entrou em conclusão.
A chamar a atenção esteve, no entanto, a atuação de um par de aviões bombardeiros médios Air Tractor AT-802T, que despejaram um líquido vermelho na zona circundante do incêndio: os aviões, que estão estacionados no aeródromo de Santarém, utilizaram uma calda retardante para o controlo das chamas, uma experiência que está em testes em Portugal, mas que deverá começar a ser usada frequentemente nos teatros operacionais de combate aos incêndios.
As caldas retardantes são misturas de substâncias químicas utilizadas para reduzir a velocidade de propagação do fogo e consequentemente auxiliar no controlo e extinção dos incêndios. Esses retardantes são aplicados sobre a vegetação e atuam de diferentes maneiras para minimizar os efeitos do fogo. Em Portugal, o uso de caldas retardantes em incêndios florestais foi suspenso em 1998, em conformidade com uma diretiva da União Europeia que priorizou o uso de substâncias emulsivas biodegradáveis: no entanto, atualmente já está certificada pela UE para uso nos incêndios.
O comandante Emanuel Santos, vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, falou em exclusivo à ‘Executive Digest’ para explicar o efeito deste novo método de combate a incêndios.
“Neste momento, há dois tipos de calda retardante que são usadas: nós usamos as de curto prazo. O que é que ela faz? Em junção com a água – normalmente é utilizada 3% [por cada 100 litros de água, três litros são deste produto químico] -, é utilizada para retardar a corporação do incêndio e reduzir a intensidade. Ou seja, quando esta calda é lançada por meio aéreo sobre o combustível, é sobre o que ainda não estará a arder. Está na linha de fogo entre o que arde e o que não arde”, indicou o comandante.
“Ao ser colocada na vegetação, vai formar uma calda que vai impedir a libertação da humidade desse combustível e vai, ao mesmo tempo, impedir de forma momentânea que a temperatura afete esse combustível. Cria uma barreira entre a temperatura e o combustível”, frisou o responsável da corporação de Ermesinde.
O efeito, indicou o especialista, da calda retardante “é mais eficaz. A água tem um pequeno efeito de molhar, arrefecer o combustível. Mas a temperatura tira de forma muito rápida a humidade. Verificámos que se a água for lançada de um meio aéreo chegar de uma altitude maior, quando chega ao combustível já não existe, evapora. Com este retardante, a água cai, agarra-se ao combustível, não evapora pelo caminho. Claro, pode haver algumas folhas que não sejam atingidas e haverá probabilidade na mesma de passar o incêndio. Mas é uma probabilidade muito menor”, frisou Emanuel Santos, lembrando que esta calda “não é jogada em cima das casas, apenas em cima do combustível”. “Apesar de ser biodegradável, pode ter algum pequeno efeito corrosivo”, apontou, indicando que “não é tóxico” para as pessoas.
A experiência está a ser conduzida em Portugal “em dois aparelhos de asa fixa que estão no Centro de Meios Aéreos de Santarém. Neste momento, estão a fazer os testes para permitir, se for eficaz, continuar a usar em todo o país”.
E qual é o custo desta operação com a calda retardante? Segundo o responsável da Liga de Bombeiros Portugueses, “o que é usado nos incêndios estruturais, o que os bombeiros têm nos tanques dos veículos para combate a incêndios fica uma média de 5/6 euros por litro e um bidão de 25 litros com esta calda desaparece em segundos. Se conseguirmos jogar com os benefícios, protegemos a natureza de duas formas: impedimos que a floresta arda e não prejudicamos com a calda que é usada”.
Como tal, salientou o responsável, é bem possível que se comece a ver cada vez mais o rasto vermelho dos aviões de combate a incêndios. “Já foram feitos alguns testes, já foi feita uma apresentação nacional para os pilotos e para quem trabalha nesta área para começarem a intervir com estas caldas e depois avaliar os resultados. Não é só descarregar, é necessário ir ao terreno ver se a vegetação é prejudicada ou não.”
Os incêndios em Portugal chegaram em força nos últimos dias. Promessa de um verão complicado? “Podermos dizer que sim. Mas no ano passado, com um verão também quente, os grandes incêndios chegaram em setembro. Tivemos em 2017, com o incêndio em Pedrógão Grande em junho, e depois um verão tranquilo, e a 15 de outubro, no dia em que terminava o dispositivo florestal, tivemos outra vez uma panóplia de incêndios graves. Portanto não podemos usar a futurologia. Pode estar muito bem e de repente descambar. A previsão é que seja um verão sempre com temperaturas elevadas”, concluiu.
In Executive Digest







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