quarta-feira, 20 de julho de 2022

Tudo ao contrário, na política de prevenção e combate aos incêndios

 Vejo e ouço António Costa, todos os dias, a todas as horas, a acusar quem trabalha nos campos de ser o responsável por provocar incêndios rurais ou florestais.











Direta ou indiretamente, através de publicidade paga com o dinheiro dos nossos impostos, António Costa acusa todos os que usam roçadoras mecânicas, cortadoras elétricas, desmatadoras, moto cultivadoras, máquinas ceifeiras de trigo, milho, cevada, máquinas de cortar e enfardar feno, de serem as causadoras de incêndios rurais.

"Objetivamente o primeiro-ministro passa os dias a ofender todos os que trabalham nos campos de Portugal, acusando-os de serem odiosos incendiários. Mais do que isso, António Costa decretou que não podem trabalhar em determinadas horas do dia e, mais grave, em vários dias seguidos, durante as próprias campanhas de colheita dos cereais e tratamento de culturas agro florestais."

Esta sanha contra quem trabalha na terra tem um grave desfoque na sua origem: António Costa não percebe nada da vida no campo, na agricultura e na floresta. Não sabe que as raras ignições provocadas pelas alfaias agrícolas são absolutamente marginais em relação ao real número de fogos e que, mesmo assim, quando acontecem são em regra imediatamente apagadas pelos próprios trabalhadores.

António Costa não conhece nada do ciclo reprodutivo da natureza e da necessidade de a agricultura usar o fogo como queima de sobrantes orgânicos para fertilizar as terras com a própria cinza, num regime controlado que é usado desde que a agricultura existe há dezenas de milhar de anos, e que quem sabe usar, usa com parcimónia em função das temperaturas e dos ventos locais.

António Costa todos os dias ouve, como eu, que foram detidos mais suspeitos de incêndios criminosos que ganharam proporções dantescas e que puseram em risco ou destruíram mesmo vidas humanas. Mas para ele, o crime sistemático como motor da indústria dos incêndios não existe… ou melhor, não se deve referir na comunicação social que é a melhor forma de não existir…

E no entanto já são muitos os suspeitos de graves incêndios criminosos a serem detidos este ano pelas autoridades…

"Sim, a verdadeira indústria dos incêndios rurais e florestais continua a dar de comer a muita gente em Portugal."

Vejamos um apanhado resumido, dos menos relevantes até aos que têm mais impacto económico e ambiental:

Os incêndios rurais interessam sobretudo,

Aos proprietários de rebanhos que se alimentam nos vales, encostas e serras do centro e norte do país, que assim terão pastagens renovadas e tenras para o gado na primavera;

Às empresas de fornecimento de equipamentos aos bombeiros, que não são poucas em Portugal;

Às empresas que reparam os veículos dos bombeiros, que são poucas e muito poderosas;

Às empresas de meios aéreos de combate a incêndios, onde se incluem os tubarões da viciação de concursos públicos em Espanha;

Às indústrias de celuloses que todos os anos beneficiam com a queda dos preços da madeira como matéria prima, seja verde, seja ardida, precisamente por causa dos incêndios;

Aos grandes proprietários das plantações de eucaliptos, incluindo os industriais de celuloses, que todos os anos veem aumentada a área da espécie em Portugal;

E também às indústrias de aglomerados, laminados e contraplacados de madeira, que todos os anos têm matéria-prima mais barata com a madeira ardida e ainda não apodrecida;

E ainda às indústrias de pelets, que cada vez exportam mais para o centro e norte da Europa.

A madeira chamuscada, para estas indústrias de pelets e aglomerados não faz qualquer diferença a não ser no preço ao produtor. Com os incêndios, cai para zero e essa mesma madeira continua a poder ser utilizada.

Sobre o que acabei de escrever, ponham-me em tribunal se quiserem. Irei de bom grado explicar aos juízes aquilo que desgraça o nosso país todos os anos.

Não, nunca acusarei nenhum dos operadores destas atividades agrícolas ou industriais de ser um incendiário ativo. Não o são certamente…

Sim, todos esses agentes económicos beneficiam de uma forma ou de outra com os incêndios rurais e florestais em Portugal.

Os únicos que não beneficiam são os pequenos proprietários rurais e florestais.

É contra eles que se desenrola esta guerra económica. Porque é de uma guerra económica e de uma indústria dos incêndios que se trata.

Para os intelectuais de Lisboa e Cascais, o melhor era proibir a construção de casas no meio das zonas de floresta e impedir os pequenos proprietários de explorar o tipo de ocupação agrícola ou florestal que quiserem desenvolver nos seus terrenos. O melhor seria mesmo proibi-los de existir, de ter casas e atividades agro florestais, quaisquer que sejam, e obrigá-los a entregar tudo às grandes empresas florestais, cotadas em bolsa, para aumentar os lucros dos acionistas dessas empresas, que vivem em Lisboa e Cascais.

Não estou de acordo.

Ao contrário do que o Governo e estes intelectuais de pacotilha dizem, quanto mais habitações existirem em zona de floresta, mais hortas, pomares, tanques de água, represas, zonas húmidas, árvores de fruto, oliveiras, folhosas, sobreiros, castanheiros, oliveiras, medronheiros, loureiros, salgueiros e carvalhos haverá, no meio do mar de eucaliptos que os lobbies querem tornar em monocultura no nosso país.

Mesmo que os pequenos proprietários também queiram beneficiar com o valor económico da madeira de eucalipto e também estejam interessados em os plantar, como plantam certamente, guardarão sempre uma parte dos seus terrenos para aquelas atividades.

E fique este Governo ciente de uma realidade que desconhece:

"No dia em que o Governo, o Ministério da Agricultura e as câmaras municipais aliadas dos principais partidos políticos, começarem a tomar posse administrativa de pequenos terrenos aparentemente sem dono conhecido, nesse dia começará a germinar uma revolta sem precedentes nas últimas décadas em Portugal"

Para os funcionários do ar condicionado e os intelectuais e acionistas da Lisboa rendeira, aqui vai a explicação:

As pequenas parcelas rurais, aparentemente abandonadas no centro e norte do país, são a última reserva estratégica de quem migrou ou emigrou para as grandes cidades e para outros países, mas sabe sempre que terá um palmo de terra para voltar a cultivar na sua aldeia natal ou nos arredores, se as coisas correrem mal nas latitudes e longitudes onde agora se encontram.

"Para os interesseiros políticos que estão agora a ocupar o poder e nele querem continuar, já é tempo de terem percebido esta realidade sociológica muito simples: ousem tomar posse administrativa do minifúndio em Portugal e serão literalmente postos na rua. Aliás, ousem aumentar os impostos sobre esse minifúndio que pouco ou nenhum rendimento dá e mais cedo serão apeados do poder!"

Para esta classe política tão completamente desfocada da realidade do interior, que representa mais de 75 por cento do território do país, fica uma sugestão:

"A grave situação dos incêndios rurais e florestais só mudará quando os incentivos económicos forem estabelecidos exatamente ao contrário do que são agora: não punitivos para quem é proprietário e orientados para haver fogo e muita gente ganhar com isso, mas para incentivar quem cultiva e cuida, e para proteger o que é verde."

Quando os pequenos proprietários rurais forem considerados benfeitores da comunidade e forem subsidiados pelas cidades, nomeadamente através de taxas pagas pelo Fundo Ambiental e pelas empresas de urbanização e promotoras imobiliárias, como forma de ajudar a manter as propriedades florestais verdes, as pequenas, as médias e as grandes, nesse dia começaremos a ganhar a guerra contra os incêndios.

Infelizmente, não será pela mão dos governantes que nos têm desgovernado…do PS e do PSD incluídos.

Entrevista a: José Gomes Ferreira

In SIC Noticias