segunda-feira, 27 de julho de 2020

Incêndio em Oleiros: o reviver de um pesadelo com 17 anos

fogo de Oleiros invadiu concelhos vizinhos. A população não dorme e chora jovem bombeiro que morreu.
“Mas para onde me querem levar? Aqui estão as minhas coisas!”. Anunciação Esteves, uma das cinco moradoras de Pedintal, Oleiros, mostra resistência à decisão dos Serviços Municipais de Proteção Civil de retirar os moradores face ao aproximar das chamas que surpreendem. “Ainda agora estava do outro lado da serra e já se veem as chamas”, diz desolada a idosa de 84 anos, enquanto coloca num saco os documentos pessoais.
A filha e o neto insistiram para ir com a psicóloga Rafaela Lopes, de Oleiros, para a Misericórdia da vila. Pede-se rapidez na evacuação, enquanto ficam os filhos e os netos nas beiras das estrada, com baldes, mangueiras e tanques de plástico com água. O demónio em chamas está a aproximar-se da zona onde surgiu no sábado de tarde, em Oleiros. Desde aí, o fogo não abrandou, subiu serras, desceu vales para voltar a subir. Os 892 operacionais, apoiados por 233 viaturas e 14 meios aéreos – que muitos populares dizem não ver – enfrentam as malícias do vento, que ora sopra a este como a oeste. 

De Oleiros, o incêndio passou para Proença-a-Nova e Sertã. As populações não pregaram o olho. Foi um reviver do grande incêndio que queimou todo o pinhal naquela zona em 2003. Corgas, Proença-a-Nova, viu as chamas aproximarem-se, os habitantes regaram hortas e madeira guardada para o inverno. “Não fui à cama e pelos vistos até amanhã não vou vê-la”. Filipe Castanheira veio de Lisboa alarmado para a aldeia natal no sábado de tarde. “Quando cheguei, vi o pânico. Felizmente, desta vez não faltou a luz e os furos artesianos funcionaram”.
Naquele que é considerado um dos maiores incêndios deste verão face à sua duração, ficará também na memória como aquele em que faleceu Diogo Dias, um jovem bombeiro de Proença-a-Nova. “Uma joia de moço. O pai bem queria que o ajudasse na empresa e ele fazia-o, mas dizia que queria fazer o bem”, conta, emocionado, Mário Lopes Martins, primo e vizinho da família, na rua onde Diogo vivia com os pais, em Vale da Mua. “É uma família adorada por toda a gente”, acrescenta a mulher Laurinda.
In Jornal de Noticias