Camião embate em casa e desaloja casal em Seixo da Beira
Um casal foi hoje realojado numa habitação do bairro social de Seixo da Beira depois de parte da casa onde viviam ter ficado destruída devido ao embate de um camião de transporte de areias.
“Foi um milagre, podíamos ter morrido”. O desabafo pertence à antiga moradora do nº185 da Rua Rainha D. Mafalda, em Seixo da Beira, no concelho de Oliveira do Hospital, que cerca das 07h20 de hoje ficou com parte do quarto a descoberto, devido ao embate inesperado de um camião que se deslocava para o minério localizado na freguesia para carregar areia.
À hora a que o embate aconteceu, Maria de Lurdes Rodrigues, de 59 anos, ainda se encontrava deitada com o marido, Joaquim Adão, de 56 anos. “O meu homem viu logo o que tinha sido e começou a gritar”, disse visivelmente abatida a mulher, que não consegue tirar o pesadelo vivido esta manhã da memória.
“Só pensei que íamos morrer”, continuou, contando que o embate ocorreu do seu lado da cama e que só não foi pior porque a janela da velha habitação ficou apoiada na barra da cama e impediu que o desabamento fosse maior.
Um cenário que é facilmente comprovado numa deslocação ao local, onde são perceptíveis as marcas da violência do embate que deixou a casa completamente inabitável, desprotegida e com os pertences à vista de todos.
Quando o casal foi surpreendido pela visita verdadeiramente inesperada ainda eram poucas as pessoas que se encontravam na rua, tendo porém o episódio sido testemunhado por alguns jovens que aguardavam pela chegada do transporte escolar.
No entanto, o estrondo causado pela violência do embate serviu de alerta aos vizinhos que, prontamente prestaram auxílio ao casal, que é conhecido de todos e que nos últimos tempos também tem merecido a solidariedade dos populares devido à frágil condição de saúde e até de sobrevivência.
“Tive um AVC no dia 23 de dezembro e não posso trabalhar. Vejo ir as outras e eu tenho que ficar em casa”, desabafou Maria de Lurdes Rodrigues que costumava trabalhar em vinhas da região e que hoje, fruto do embate na sua habitação, foi realojada no nº9 do bairro social de Nossa Senhora da Estrela, em Seixo da Beira.
Uma mudança repentina, mas que já há muito que era esperada pelo casal que chegou a efetuar um pedido à Câmara Municipal – foi rejeitado – devido à falta de condições na habitação onde residiam desde a data de casamento, há 35 anos.
“Agora ao fim de 35 anos é que ando com a trouxa às costas”, lamentou Maria Lurdes, contando que a casa que habitava era de renda e que foi o próprio casal que foi fazendo algumas benfeitorias para lá poder permanecer.
Sem emprego e a recuperar de um AVC, Maria de Lurdes garante não ter qualquer fonte de rendimentos desde que lhe foi cortado o rendimento mínimo. É que, segundo o casal, também Joaquim Adão não fica incólume aos problemas de saúde, sendo mesmo visível a hérnia de que padece na zona abdominal.
“Fui pedreiro e já trabalhei ao dia, mas agora não posso trabalhar”, lamentou, explicando que vai apenas cuidando da própria agricultura para poderem comer. “As almas boas é que me têm dado mercearia e pago a luz e a água”, contou chorosa Maria de Lurdes Rodrigues que se mostra pouco confiante em relação ao futuro. “O caminho mais certo é para ali (cemitério)”, disse Joaquim Adão.
O episódio corrido esta manhã deixou a população de Seixo da Beira em estado de choque. Um sentimento partilhado pelo presidente da Junta de Freguesia, vizinho do casal, que também acordou com o estrondo do embate. Carlos Batista lamenta o que aconteceu a Maria de Lurdes e Joaquim Adão e responsabiliza o condutor do camião que embateu na habitação pelo facto de não cumprir o sinal que proibia a circulação de pesados naquela via.
Note-se que se trata de uma rua estreita e em curva e que não possibilita a manobra a um veículo daquelas dimensões. “O trator do camião passou, mas a galera não passou e bateu na casa”, contou um popular.
Apesar do trágico acontecimento, Carlos batista valoriza o facto de o casal ter saído ileso e aprecia a prontidão dos serviços sociais da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital que, logo, agilizaram o realojamento do casal, que não tinha outro sítio para onde ir.
In "Correio da Beira Serra" Online
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