Senhor primeiro-ministro, senhor Presidente da República: mostrem ser capazes de nos comandar com seriedade. Porque, de resto, estamos fartos de tretas
CRONICA || Este texto não apaga fogos. Mas este texto apresenta um voluntário para combatê-los. E convoca mais voluntários para fazer igual. Mas o que este texto não consegue encontrar é uma liderança que organize devidamente estes voluntários todos rumo à salvação do país que arde.
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Estou farto de ver gente a morrer a defender o que é seu ou a lutar para defender o que é dos outros, muitas vezes a troco de uns míseros euros em dias que trocaram as férias e a família para dar o corpo às chamas - porque para isso se voluntariaram, muitas vezes com enorme desprendimento.
Estou farto de relatórios sérios feitos por gente competente cuja maioria são deixados em gavetas, apesar de quem manda (independentemente do partido que representa) garantir que os vai cumprir ponto por ponto. Estou farto de ver esta gente que nos governa ir de férias, a banhos e a festarolas quando estão avisados que o perigo está à espreita. Não defendo que os governantes não gozem férias, até porque as merecem, mas que as gozem em períodos em que o país não tem tanta necessidade de os ter na frente da “guerra”, como o primeiro-ministro chamou a esta calamidade.
Também não lhes peço que vão para o terreno combater as chamas, mas que estejam nos postos de comando gerindo os problemas que vão surgindo e dando explicações aos portugueses sobre o que está a ser feito e o que cada um deve fazer. Estou farto de os ver fugir às perguntas dos jornalistas, muitas vezes com uma estúpida arrogância, que apenas querem que esclareçam os cidadãos, especialmente os que vivem em pânico dias a fio. Estou farto de ver criticarem os mensageiros por mostrarem aos portugueses o que os governantes preferiam que não vissem, nomeadamente as duras críticas dos cidadãos e até de autarcas de todas as cores políticas.
Estou cansado de os ver esconderem-se cobardemente atrás de textos lidos que nada explicam ou em declarações igualmente ocas. Estou farto também de os ver refugiarem-se atrás de figuras secundárias por pensarem que assim se safam aos problemas por deixarem outros expostos às setas das críticas.
Assim como estou farto de ver alguns dirigentes da oposição aproveitarem a desgraça alheia para fazer política de baixo nível, fomentar o ódio e nada contribuírem para resolver os problemas. Querem demissões? Façam o favor de sair, na maior parte dos casos ninguém vai dar pela vossa falta e só vão contribuir para um país melhor.
Estou farto de promessas de subsídios e de apoios às vítimas que muitas vezes não chegam ou pouco ajudam, como está fartamente provado ao longo dos anos. E já agora, senhor primeiro-ministro, podia começar por esclarecer os portugueses detalhadamente onde foram aplicados os muitos milhões de euros que os seus governos e os anteriores receberam da União Europeia para gestão das florestas e prevenção contra os incêndios.
Estou igualmente farto de ver que não há qualquer controlo sobre os dinheiros dados às chefias das associações de bombeiros voluntários, quando muitas vezes não são gastos no que é realmente é necessário. Não digo que existam roubos ou fraudes (longe mim), apenas sei que muitas vezes não é aplicado da melhor forma sem que ninguém, repito, ninguém controle efetivamente esses gastos. Assim como sei que, quando nos dizem que existe o número “x” de combatentes e viaturas no terreno, esse número é muitas vezes inferior. Estas contas mal feitas (para não chamar outra coisa) são do conhecimento de muitos e, se o senhor primeiro-ministro ou a senhora ministra da Administração Interna não sabem, ordenem uma investigação, informem-se. Garanto-lhes que terão uma surpresa e, com um pouco de sorte muitas outras coisas vão ficar a saber-se sobre estas contas mal contadas nos combates aos incêndios.
Estou farto de ver um Estado que não limpa as suas matas, quando pede a velhos já sem força que o façam ou a gente com reformas de miséria que paguem a alguém que o faça por si - porque, se o não fizerem, são obrigados ao pagamento de multas. A isto, senhor primeiro.ministro, chama-se falta de vergonha e desumanidade.
Estou farto, mas tão farto e revoltado de ver que, mais uma vez, nada ou basicamente nada aprenderam com os erros passados e estou farto de continuar a ver o meu país nos lugares cimeiros das tabelas das desgraças causadas pelos fogos.
Sim, eu sei que nos outros países, alguns até muitos mais ricos que o nosso, tudo isto se repete. Mas é aqui que eu vivo, foi neste pedaço de terra que sempre tentei dar o meu melhor por ele. Pela minha parte, estou disponível para ajudar. Não com a minha escrita, que não apaga fogos, ou com as minhas mãos, porque não o sei fazer, mas como voluntário para ajudar a combater este mal de uma forma que saiba e o possa fazer com utilidade.
Estou certo, muito certo, senhores primeiro-ministro e Presidente da República, que muitos milhares de portugueses estão igualmente dispostos a voluntariar-se para ajudar com os seus saberes e das mais variadas formas - sem pedir nada em troca - para ajudar o país a combater esta desgraça já, ou num futuro próximo, ao nível da prevenção. Assim os senhores nos peçam e mostrem ser homens para nos comandar com seriedade. Porque, de resto, estamos fartos de tretas até ao tutano.
Se nada fizerem, serão os senhores os “queimados”, não pelas chamas mas pela vontade dos portugueses. Eu sei que isso não vos preocupa muito porque não perderam tudo o que levou uma vida a construir e terão emprego certo na política ou fora dela, mas, pelo menos, podemos ter a sorte de não os ter nunca mais em lugares executivos a contribuir com a vossa incompetência para ajudarem a destruir o que é de todos nós.
In CNN Portugal
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